Sem atendimento garantido nos pronto-socorros da rede pública do Distrito Federal (DF), resta aos pacientes com problemas de menor complexidade, como dor de cabeça e febre, procurar atendimento nos centros de saúde. Essa, pelo menos, tem sido a orientação da Secretaria de Saúde. O problema é que a maioria da população desconhece essa recomendação. Além disso, grande parte dessas unidades não oferece pronto-atendimento.

A equipe de reportagem da Agência Brasil percorreu centros de saúde de quatro cidades do DF e constatou que, nesses locais, os médicos atendem apenas com agendamento prévio.

No Centro de Saúde nº 2 de Santa Maria, a clínica médica dispõe de quatro profissionais. A marcação de consultas só pode ser feita aos sábados, das 7h30 às 11h. Nesses dias, de acordo com os próprios funcionários, é preciso chegar cedo, já que as senhas são distribuídas, mas nem todos os pacientes conseguem horário de atendimento.

O cenário no Centro de Saúde nº 3 do Gama é de corredores vazios. Heliane dos Santos, 29 anos, contou que foi ao local apenas para mostrar fotos do filho aos funcionários da unidade. “O pré-natal e o atendimento do bebê eu fiz aqui no posto. Mas, para atendimento comum, vou ao pronto-socorro, porque aqui tem que marcar hora”, disse. “Passando mal, não viria para cá não”, completou.

Outra queixa de pacientes diz respeito ao horário de funcionamento das unidades, que, geralmente, não ultrapassa as 18h. No Centro de Saúde nº 2 de Taguatinga, pessoas com consulta marcada formavam fila do lado de fora do prédio no último dia 21. Isso porque o local, que conta com dois profissionais de clínica médica, fecha no horário de almoço, das 12h às 13h. A marcação de consultas começa no dia 25 de cada mês, das 9h às 11h e das 15h às 17h. Assim que as senhas acabam, também é encerrado o período de agendamento.

A Secretaria de Saúde do DF aponta as unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) como segunda alternativa para os casos menos graves e como solução para diminuir a demanda nos pronto-socorros. Entretanto, apenas uma UPA foi entregue pelo governo até o momento.

Em Samambaia, única cidade-satélite do DF com uma unidade desse tipo em funcionamento, o hospital regional sequer disponibiliza a opção clínica médica. Há apenas ginecologia, obstetrícia e cirurgia geral. Entretanto, na própria UPA, um único médico fazia o atendimento no final de outubro. De acordo com informações repassadas no balcão, não era certo que haveria um profissional no período da tarde.

“Há três semanas, vim aqui, mas só tinha um clínico. Tudo muito cheio, gente sentada, em pé, nos fundos e lá fora”, contou a estudante Juliane Negreiros, 24 anos. “Fui embora. Estava com a garganta infeccionada, doendo muito”, contou.

A filha de Ornélia Souza Silva, 40 anos, estava com falta de ar e muita tosse. A diarista chegou à UPA por volta das 3h da manhã do último dia 21, mas foi informada que o único médico disponível estava ocupado com a demanda de internações. Ela foi para casa e retornou ao local no final da manhã, quando conseguiu ser atendida. “Quando tem médico é rápido. Mas quase sempre não tem”, ressaltou.

Em entrevista à Agência Brasil, o secretário adjunto de Saúde do DF, Elias Fernando Miziara, destacou que, ao longo dos últimos anos, houve um “desvirtuamento do sistema de saúde pública”, que fez com que a população deixasse de acreditar na eficiência dos centros de saúde. “Os próprios governantes não incentivaram, não deram condições aos centros de saúde, e a população começou a recorrer aos hospitais. Quando você tem toda essa verdadeira multidão na emergência, você praticamente impede que chegue lá quem realmente precisa”, disse.

De acordo com Miziara, toda cidade do DF deve contar com pelo menos um centro de saúde que funcione até as 22h e que tenha pronto-atendimento. A orientação é que a população procure a administração regional para se informar sobre a localização dessas unidades.