Um grupo de organizações não governamentais (ONGs) vai começar a monitorar o desmatamento na Pan-Amazônia. Os primeiros mapas, com informações sobre o estado da floresta em 2000, 2005 e 2010, serão apresentados em até três meses. O monitoramento vai permitir uma visão integrada das pressões que ameaçam a floresta nos nove países que compartilham o bioma.
A iniciativa é uma parceria entre o Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), reconhecido pelo monitoramento do desmate na Amazônia brasileira, a Articulação Regional Amazônica (ARA) e a Rede Amazônica de Informação Socioambiental Referenciada (Raisg).
“Os dados hoje são uma colcha de retalhos. É preciso ter uma radiografia integrada”, avaliou o pesquisador sênior do Imazon, Carlos Souza.
O monitoramento regional deve permitir um diagnóstico das pressões sobre o bioma, que não se limitam às fronteiras nacionais e têm impactos sobre toda o ecossistema. “Não existem várias amazônias, existe uma só. O futuro na Amazônia brasileira está intimamente ligado ao da Amazônia andina. É uma só bacia, se o Peru e o Equador não cuidarem da parte alta da bacia, os prejuízos também serão do Brasil”, ponderou o presidente da Fundação ProNaturaleza, do Peru, Marc Dourojeanni.
O Brasil, que abriga mais de 64% do bioma, ainda é de longe o país que mais desmata a Floresta Amazônica, mas dados recentes mostram que o desmatamento nos países andinos tem aumentado em ritmo muito maior que no Brasil, principalmente na Bolívia e no Equador.
“É uma região que não está isolada, os limites políticos são importantes, mas o ecossistema está integrado. O que acontece nos Andes, na cabeceira dos rios, vai ter impacto direto aqui no Brasil”, acrescentou Souza, do Imazon.
A partir dos mapas de referência, será possível planejar a implementação de um monitoramento periódico de toda a região, como o Imazon faz no Brasil com o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD). A ONG divulga relatórios mensais do desmatamento na Amazônia, de forma paralela ao levantamento oficial feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Segundo Souza, o grande desafio para dar escala às ferramentas e garantir que o monitoramento seja constante é o financiamento. “O desafio não é mais técnico, é operacional. Para transformar essas ações em projetos operacionais é preciso ter garantias financeiras para isso. Há custos para se ter um laboratório minimamente equipado, contratação de técnicos, pessoal para ir a campo”, listou.
A parceria das ONGs antecipa uma iniciativa da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (Otca), que tem negociado o compartilhamento de metodologias brasileiras de monitoramento de desmate com países amazônicos vizinhos. A iniciativa pretende pleitear recursos do Fundo Amazônia para financiar o projeto.
A discussão de estratégias integradas para a Amazônia é um dos focos do debate do encontro Cenários e Perspectivas da Pan-Amazônia, organizado pelo Fórum Amazônia Sustentável, em Belém.
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