A Igreja Católica apresentou na quinta-feira um projeto de ensino digital destinado a ajudar clérigos de todo o mundo a erradicarem a pedofilia de suas fileiras e a protegerem menores de potenciais abusos.
Ao final de quatro dias de conferência sobre o tema em Roma, o padre François-Xavier Dumortier informou que o projeto de 1,2 milhão de euros (1,6 milhão de dólares) fornecerá aconselhamento em várias línguas e acesso a pesquisas sobre o que é pedofilia e como reagir a ela.
“Isso vai ajudar a desenvolver uma cultura de escutar (…), um rosto diferente da cultura do silêncio”, disse Dumortier, reitor da Pontifícia Universidade Gregoriana, onde se realizou a conferência.
Uma associação de vítimas de abusos disse, sem comentar diretamente o projeto para a internet, que a conferência em Roma foi uma mera “vitrine”, e que o melhor que o Vaticano tinha a fazer seria entregar ao Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, toda a documentação que possuir sobre os abusos.
Há anos as vítimas dos abusos acusam alguns bispos de acobertarem os casos de pedofilia, que têm abalado a imagem da Igreja no mundo todo.
Na quarta-feira, monsenhor Charles Scicluna, principal autoridade eclesiástica para a questão dos abusos, disse que escondê-los por trás da cultura da “omertà” – o código de silêncio da Máfia – seria fatal para a Igreja.
O simpósio reuniu cerca de 200 pessoas, incluindo bispos, líderes de ordens religiosas, vítimas de abusos e psicólogos. Alguns participantes viram o evento como um ponto de inflexão na abordagem da Igreja para a crise.
“A Igreja agora tem uma base a partir da qual começar”, disse Brendan Geary, da ordem dos Irmãos Maristas. “Começamos ouvindo as vítimas e escutando suas experiências. Asseguramos que a Igreja tenha os mais elevados padrões para a proteção das crianças.”
O “Centro para a Proteção Infantil” criado na internet terá a colaboração de universidades e instituições médicas para desenvolver o que a Igreja espera que seja uma resposta permanente aos problemas de abusos sexuais, com material em alemão, inglês, francês, espanhol e italiano.
A mensagem dos representantes do Vaticano que participaram do simpósio é a de que funcionários eclesiásticos locais devem cooperar com as autoridades civis em casos de suspeita de pedofilia, cumprindo as leis de cada lugar.
Os escândalos resultaram em custosas ações judiciais e são vistos como responsáveis por um êxodo de fiéis em alguns países europeus, inclusive a Alemanha, terra do papa Bento 16.