Apesar das duras criticas dirigidas ao Brasil nos últimos dias, o secretário-geral da Fifa,Jérôme Valcke, poupou Ricardo Teixeira e, com isso, levantou suspeitas dentro da própria entidade de que a ofensiva não passaria de uma espécie de retaliação contra o governo pela forma que o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tem sido alvo de investigações e acusações.

Segundo fontes na Fifa que não fazem parte do grupo de aliados de Valcke, por trás de declarações aparentemente explosivas está uma manobra política orquestrada para escancarar ao mundo a ineficiência das autoridades brasileiras. Em contrapartida, Teixeira, pivô de escândalos de suspeitas de corrupção no Brasil, é blindado das críticas lançadas pela Fifa.

“Teixeira teve o apoio de diferentes federações (estaduais brasileiras)”, declarou Valcke no fim de semana ao ser questionado sobre a posição da entidade em relação a seu interlocutor na preparação para a Copa. “Por enquanto, ele é o presidente da CBF e do Comitê Organizador Local. Talvez tome uma decisão sobre seu futuro nos próximos dias. Mas minha principal preocupação é de que as coisas não estão se movendo rapidamente.”

Na semana passada, Teixeira comandou uma assembleia na CBF e avisou aos presidentes de federações de que vai continuar no cargo. No entanto, são significativos os indícios de que irá licenciar-se do cargo brevemente, para cuidar de sua saúde – anda às voltas com uma diverticulite.

No sábado, Ricardo Teixeira foi um dos poucos, no Brasil, a não responder a Valcke com indignação. Ao contrário, apresentou-se como aquele que vai resolver os problemas. Em nota, garantiu que as obras da Copa serão concluídas e que Valcke pode ficar “tranquilo”.

Se Teixeira é persona non grata entre o círculo de amigos do presidente da Fifa, Joseph Blatter, sua relação com o secretário-geral é de amizade. Em várias ocasiões, Valcke e Blatter já deram declarações desencontradas sobre a situação no Brasil. No ano passado, quando o presidente da entidade disse ao Estado que queria a abertura da Copa no Maracanã, Valcke reagiu irritado.

Para observadores na Fifa consultados agora pelo Estado, as declarações de Valcke – na sexta-feira disse que o Brasil precisava levar um “chute no traseiro” e começar a trabalhar efetivamente para viabilizar o Mundial e no sábado classificou a reação do governo federal como um “pouco pueril” – servem como um recado direto ao governo de que ele mantém seu apoio a Teixeira.

Grupo. Não foi por ofensa à pátria, portanto, que o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, agiu rapidamente para isolar o cartola francês. A decisão do governo de pedir o afastamento de Valcke das negociações com o Brasil também seria uma forma que o Palácio do Planalto encontrou para reduzir ainda mais o poder do grupo de apoio de Teixeira dentro da estrutura da Copa.

A presidente Dilma Rousseff já deixou claro que não recebe Teixeira. Agora, espera abafar seu principal aliado dentro da Fifa, o francês Jérôme Valcke.

Na Fifa essa opção dificilmente vingaria, pois todas as decisões passam por dois homens: Valcke e Blatter, que centralizam o poder. Blatter, porém, não tem qualquer interesse em passar seus dias negociando cada detalhe da organização de um Mundial, um trabalho que tradicionalmente é do secretário-geral.