Aplicativos gratuitos de mensagens para smartphones já começam a ameaçar a receita das operadoras com SMS e criam uma nova tendência no mercado. Conforme a empresa de pesquisas Ovum, até 2016, as operadoras vão perder US$ 54 bilhões em receitas geradas pelas mensagens de texto (SMS) tradicionais devido à crescente popularidade desses serviços de bate-papo para celular.

Fundada em 2009 por dois ex-funcionários do Yahoo, a empresa WhatsApp criou um dos aplicativos de mensagens mais populares hoje. “Queríamos criar uma alternativa melhor que o SMS. Porque algum dia, muito em breve, todos terão um smartphone”, diz o site oficial da startup. Além do WhatsApp, aplicativos para smartphone do Skype, Viber e Facebook permitem enviar mensagens de texto, áudio, imagem e vídeo por meio do acesso à internet, sem custo nenhum, para outros usuários que também têm a aplicação. A maioria desses serviços está disponível para todos os sistemas operacionais, como Android, iOS e BlackBerry.

Por enquanto, a quantidade de smartphones ou telefones capacitados para suportas essas aplicações ainda é limitada no Brasil. Além disso, para tirar proveito desse tipo de serviço, o usuário deve ter um plano de dados para acesso à internet móvel. Conforme a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), das 258,86 milhões de linhas de celulares ativas no Brasil em setembro, apenas 57,28 milhões tinham suporte à rede 3G.

“Hoje, quem tem smartphone e plano de dados, acaba usando essas aplicações e deixa de ter essa despesa por mensagem. A tendência […] é que mais pessoas utilizem esses serviços. Com isso, uma receita significava das operadoras vai desaparecer”, diz Luis Minoru Shibata, diretor da consultoria Promon Logicalis.

Contrariando a tendência, o volume de mensagens de SMS vem crescendo na Claro. Segundo Gabriela Derenne, diretora regional da operadora, novos clientes fazem com que serviços “obsoletos” mantenham o ritmo de crescimento enquanto usuários de smartphones aderem aos novos produtos. “Cada vez mais surgem serviços que colocam em cheque os que já temos […] Mas acho precipitado falar sobre a morte do SMS em um cenário em que ele segue crescendo”, opina.

Segundo Rodrigo Matos, especialista de marketing da Telefônica/Vivo, os serviços de SMS se estabilizaram depois de cinco anos de crescimento. “Hoje, 100% dos terminais são compatíveis com o SMS. Mas chegamos a uma saturação de mercado”, diz. Para Fatima Raimondi, gerente-geral para a América Latina da empresa de mensagens Acision, aplicações como o WhatsApp ainda representam uma fatia pequena ao considerar a quantidade de usuários que têm SMS. “Além disso, quando você usa SMS, você está seguro que a outra pessoa vai receber e que seus dados estão protegidos”, acrescenta.

Mudança de receita
Para continuar lucrando, as operadoras podem substituir as receitas: o cliente que usa WhatsApp vai deixar de lado o SMS, mas precisará gastar mais em dados de internet. “Ninguém contrataria um serviço de quarta geração na telefonia móvel se não houvesse aplicações que exigissem esse tipo de capacidade de rede”, diz Rodrigo Zerbone Loureiro, conselheiro da Anatel. “Isso acaba agregando valor a essa rede de telecomunicações ao mesmo tempo em que abre um campo de negócios tanto para os prestadores quanto para outros agentes econômicos que queiram inovar e prestar serviços novos”, acrescenta Zerbone.

Porém, para Shibata, a receita do SMS não será tão compensada pelo serviço de dados. “[Esses aplicativos] canibalizam uma receita da operadora, que fez o investimento em infraestrutura, que tem uma série de compromissos com o governo e que paga caro pelas faixas de frequência. No fim, elas não rentabilizam por causa essas aplicações”. Segundo o consultor, quem sai ganhando são os desenvolvedores dos aplicativos, que não têm nenhuma dessas obrigações e participam do mercado graças à base de infraestrutura das operadoras. “Se isso não existisse, eles dificilmente teriam algum valor no mercado”, acrescenta.

Shibata acredita que serviços como o WhatsApp poderiam ter sido inventados pelas operadoras, que estavam “mais preocupadas em implementar a infraestrutura”. Porém, elas começam a tirar proveito desse novo mercado. “A Vivo não entende que esses produtos sejam uma ameaça. Na verdade, eles corroboram para a comunicação […] A Vivo entende que todo mundo precisa se conectar e o WhatsApp é uma das alternativas”, diz Matos. Como respostas a essas aplicações, a Vivo vai lançar até o fim deste ano um novo serviço de mensageria em grupo para tentar reduzir o custo do SMS.

Futuro
“Acreditamos que o usuário quer trocar conteúdo independente da plataforma”, opina Fatima, da Acision, que trabalha hoje para possibilitar que o SMS se comunique com os outros aplicativos do celular. Segundo a executiva, o desafio é permitir que “todo mundo se comunique com todo mundo”. “O desafio é permitir que os usuários consigam interagir por SMS e pelas aplicações como o Facebook”, diz. “No futuro, não será apenas WhatsApp, Facebook e SMS. Haverá uma série de aplicações que a tecnologia permitirá sua integração”, acrescenta.