Maria Aparecida Buliani *
No exato momento em que você lê este texto, centenas de milhares de professores, em cada canto do Brasil, se dedicam a educar alguém. Em sua maioria, com certeza eles chegaram à escola hoje, mais uma vez, com a esperança renovada, prontos para exercer um ofício que, antes de tudo, é uma paixão.
Isso não é demagogia, e tampouco devemos esquecer que tratar a função do docente como uma missão abnegada contribuiu para desvalorizar essa carreira que é uma das mais importantes da sociedade contemporânea – a sociedade do conhecimento.
Ser professor é uma profissão, sim, e como tal deve ser tratada. Por isso, vale a pena pensar nos desafios que enfrentam esses profissionais. O primeiro resume os demais: reencontrar o lugar que os educadores ocupam, de fato e de direito, em nossa sociedade.
Ser professor já foi uma função constituída de uma autoridade essencial. Os “mestres” eram vistos como referência absoluta, com poderes incontestáveis até mesmo ante a família. No mundo contemporâneo, há quem diga que chegamos ao extremo oposto, à extrema desvalorização social docente. Penso que, nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
O mundo de hoje não comporta mais autoridades incontestáveis, a não ser aquelas conquistadas pelo respeito e pela competência. Do mesmo modo, reconhecer o profissionalismo do docente implica assegurar condições adequadas para que ele exerça suas funções, em todos os sentidos, em qualquer lugar do país. Trata-se de uma questão de dignidade.
Basta ver como muitas análises que se fazem sobre os graves problemas do ensino são simplesmente lançadas na “conta” dos professores. Pouco se faz para mudar os cursos de formação, que preparam docentes para um mundo que não existe mais. Pouco se faz para garantir um conjunto de condições necessárias para o exercício do ofício, que envolvem a remuneração, mas não apenas ela. Parece que se espera do professor que ele, sozinho, supere todas as adversidades para ensinar bem.
Professor não é vítima, tampouco salvador da pátria. É um profissional, com direitos e obrigações, e que todo dia precisa saber renovar a profissão. Tem, sim, responsabilidade sobre o que acontece nas escolas, e precisa assumir o desafio de prover qualidade. Mas compartilha essa responsabilidade com todos, com gestores públicos e privados, legisladores, famílias. Não avançaremos se o direito a uma educação de qualidade para todos não for assumido como demanda da sociedade, na qual todos – todos, mesmo – estão envolvidos.
Quaisquer que sejam as escolhas que faremos como nação, é certo que não prescindiremos jamais dos professores. Os milhões de educadores em todo o Brasil precisam ser prestigiados com oportunidades de formação continuada, com participação e, sim, com apelos para que floresça sempre aquilo que todos trazem dentro de si: a paixão pela educação.
Seja um deles! Não tenha medo ou vergonha de dizer-se professor, aceitar-se professor e continuar professor.
*trabalha no suporte pedagógico do Ético Sistema de Ensino da Editora Saraiva