No mesmo Pacaembu em que Baltazar cansou de marcar gols de cabeça, Paolo Guerrero voltou a usar essa arma em favor do Corinthians. O herói do Mundial foi novamente muito festejado pela Fiel e até chamado pelo apelido do ídolo histórico do clube após o empate com o São Caetano. “É o Cabecinha de Ouro, é o Cabecinha de Ouro”, gritou um garoto, enquanto posava para uma fotografia com o peruano. Por conta do assédio na saída do vestiário, os seguranças tiveram bastante dificuldade em colocar o jogador dentro de seu carro e liberá-lo para seu primeiro Carnaval no Brasil.
O gol marcado por Guerrero no último sábado foi o seu terceiro na temporada, o terceiro de cabeça. Foi também pelo alto que o camisa 9 colocou seu nome na história do Timão, usando a testa para colocar na rede as duas bolas que deram ao clube o mundo em dezembro. “O que eu posso falar? Sou centroavante. Se a bola vem por cima, eu uso a cabeça. Se ela vem no chão, vou com o pé. Quando a oportunidade se apresenta, eu trato de fazer o gol”, resumiu o atacante, um pouco irritado com uma pergunta sobre uma suposta limitação por baixo.
Baltazar, o Cabecinha de Ouro original, nunca teve essa reação. O centroavante, figura decisiva no Corinthians que conquistou tudo na primeira metade da década de 50 – até a Pequena Taça do Mundo, espécie de ancestral do Mundial de Clubes – nunca teve essa reação. Ele admitia não ser habilidoso com os pés, mas dizia: “De cabeça, nem Pelé foi melhor”.
De acordo com o historiador Celso Unzelte, 70 gols dos 266 marcados por ele no Alvinegro foram comprovadamente de cabeça, mas a conta é modesta. A habilidade rendeu a marchinha “Gol de Baltazar”, composta por Alfredo Borba e conhecida na voz de Elza Laranjeira, que cantava toda a escalação do time campeão paulista de 1951 e guardava o artilheiro para o refrão: “Gol de Baltazar, gol de Baltazar, salta o Cabecinha, 1 a 0 no placar”.
Guerrero não aprendeu a finalizar pelo alto com Baltazar. Suas cabeçadas, como contou seu pai à Gazeta Esportiva.net, são inspiradas em Valeriano López, figura mítica do futebol peruano que tem no currículo a fama de fumar dólares recebidos de dirigentes. Seja como for, a habilidade e o carisma do goleador fizeram a Fiel se recordar de um de seus grandes ídolos. Ele fica desconfortável quando é questionado sobre a adoração da torcida, mas, quando não lhe apontam grossura com os pés, gosta de falar sobre sua habilidade pelo alto. “Eu posso me antecipar ou esperar o cruzamento. Para a defesa, é muito difícil”, sorriu o novo Cabecinha.