Quatro ataques entre às 18h desse domingo (17) e às 7h desta segunda (18) elevaram para 111 o número de atentados em 35 cidades de Santa Catarina, na onda de violência iniciada em 30 de janeiro. O governador Raimundo Colombo (PSD) admitiu em seu site que o crime organizado continua forte: “Eu não sinto que tudo esteja resolvido, mas entramos em uma nova fase”, declarou.

O governador reconheceu que houve uma demora em reagir aos ataques, no que teria sido uma decisão estratégica para não alertar os líderes do crime organizado que comandam os atentados: “Pagamos um preço em popularidade pelo planejamento cuidadoso e a busca da perfeição na execução dessa resposta, mas era algo que precisava ser feito dessa forma para conseguirmos o sucesso que tivemos.”

Nos quatro últimos incidentes, não houve feridos e ninguém foi preso. Segundo a Polícia Militar, tiros foram disparados contra a porta de vidro de um posto policial em Água Doce (462 km de Florianópolis). Em Palhoça, na Grande Florianópolis, um carro particular foi incendiado numa rua deserta. Em Joinville, na madrugada, um Gol 2002 foi incendiado no pátio de uma casa. Em Rio Negrinho, três homens encapuzados invadiram um estacionamento e atearam fogo em três ônibus de recreio.

Na capital, o transporte coletiva continua confuso. A Universidade Federal de Santa Catarina suspendeu as aulas do período noturno preocupada com a segurança dos estudantes – depois das 20h os ônibus circulam com escola armada.

Surpreendidos

Em novembro, Santa Catarina já tinha enfrentado uma onda de violência comandada pela facção criminosa PGC (Primeiro Grupo Catarinense), com 63 ataques em 16 cidades. O governador disse que “daquela vez fomos surpreendidos pela existência da facção”. Ela foi formada nas cadeias catarinenses e já atuava desde 2006.

Quando os ataques da segunda onda começaram, em 30 de janeiro último, Colombo disse ter pedido ajuda do governo federal, mas que em público dizia que tal ajuda não era necessária “apenas para não alertar os bandidos”.

A reação foi iniciada no fim de semana. Na última sexta-feira (15), a polícia catarinense recebeu reforço das tropas do Ministério da Justiça, a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), contingente estimado em 300 homens (os números nunca foram revelados pelo governo).

A Força Nacional ocupou os presídios do Estado e transferiu deles 37 líderes do PGC que supostamente comandavam de dentro das cadeias os ataques nas ruas. Numa operação simultânea, a Polícia Civil prendeu 70 pessoas, entre elas cinco advogados, acusados de promover a ligação entre o PGC e comparsas do lado de fora.

Asfixia

Ao mesmo tempo, o Ministério da Justiça determinou o bloqueio rodoviário, nos portos e aeroportos do Estado, para revistar pessoas em busca de drogas – o objetivo é asfixiar financeiramente os criminosos. A Secretaria de Segurança identificou que o comando do PGC está com condenados por tráfico de drogas, sequestros e assaltos a bancos.

No balanço do combate ao crime, a Polícia Civil informou que 192 pessoas foram detidas, 149 suspeitos foram presos, 43 menores, apreendidos. Dos cinco advogados presos por suposta colaboração com o PGC, dois foram transferidos de Florianópolis para Jaraguá do Sul.

Entre eles, Francine Bruggemann Wagner, que se destacou ao tirar a blusa e ter protestado inocência aos gritos quando foi fichada na porta da cadeia feminina da capital, no sábado.

Durante o fim de semana, o Departamento de Administrãção Prisional embaralhou os presos restantes nas cadeias de São Pedro de Alcântara, Joinville e Cricúma, entre outras. O objetivo é desacomodar alianças entre presos e quebrar a cadeia de comando deixada pelo PGC.