Este domingo, 31 de março, é contrastante. Assinala a comemoração da Páscoa e, ao mesmo tempo, marca o 49º aniversário da revolução militar que se estendeu por 21 anos, terminando em 1986 com a eleição indireta do mineiro Tancredo Neves para a presidência da República. Sobre as duas décadas de ditadura já se comentou à exaustão, de maneira que o interesse é abordar aspectos curiosos do movimento que derrubou João Goulart.

Revolucionários da hora

Sexta-feira, o responsável por este canto de página aproveitou para reler um livro, ofertado pelo inesquecível mestre e grande amigo, o saudoso Belmar Ramos (Bananeira). Uma obra da lavra do humorista e redator de tevê Stanislaw Ponte Preta que também viajou antes do combinado. Irreverente e crítico feroz do regime de exceção, Stanislaw colecionou vários fatos absurdos de personagens que se disseram representantes da revolução. Como foram inúmeros, selecionamos alguns.

Insubordinação

Em 1965, estreou a peça clássica “Electra”, no teatro municipal de São Paulo. Sem pagar entrada, apareceram alguns agentes do Dops para prender Sófocles, autor da obra e acusado de subversão, mas já falecido em 406 AC. Em Porto Alegre, repetiu-se episódio semelhante. O coronel Bermudes, secretário da Segurança, acusava todo o elenco do teatro Leopoldina de debochado, exigindo a presença dos atores e do autor da peça em seu gabinete. Depois, ficou muito decepcionado porque Georges Feydeau – o autor – desobedeceu a sua ordem por motivo de força maior, isto é, faleceu em Paris, em 1921. 

Imperdoável

O cidadão Airton Gomes de Araújo, natural de Brejo Santo (Ceará), foi preso pelo 23º Batalhão de Caçadores, acusado de ter ofendido um “símbolo nacional”, só porque disse que o pescoço do marechal Castello Branco parecia pescoço de tartaruga. Logo depois desagravava o dito símbolo, quando declarava que não era o pescoço de Castello que parecia com o da tartaruga: o da tartaruga é que parecia com o dele.

Dia da caça

Durante certas manobras da Polícia Militar de Belo Horizonte, os guerrilheiros de mentirinha saíram vencedores de guerra simulada, quando 270 elementos que fingiam ser combatentes contra a guerrilha, sofreram violenta indigestão do que se aproveitaram os “guerrilheiros” para ganhar a batalha. Sem dúvida alguma, a PM de Minas Gerais descobrira uma arma secreta: o desarranjo intestinal.

Sem música

Um time da Alemanha Oriental (comunista) vinha disputar alguns amistosos no Brasil e o Itamarati distribuiu nota avisando que os germânicos só jogariam se a partida não tivesse cunho político. O próprio Itamarati explicaria depois que “cunho político” era tocar o hino nacional dos dois países que iriam atuar.

Defesa do pudor

Em Mariana, interior de Minas, um delegado de polícia proibiu casais de sentarem juntos na única praça namorável da cidade e baixou portaria determinando que moça desacompanhada só poderia ir ao cinema com autorização dos pais. Ainda em Minas, outro delegado espalhou espiões da polícia pelas arquibancadas dos estádios “porque, daqui pra frente, quem proferir mais de três palavrões – torcendo por seu clube – será preso”.

Para fechar

A repetição das barbaridades em São Paulo e outros estados, como era de se esperar, gerou mau exemplo em pequenos municípios do interior do país. No nordeste de Minas, a cidade de Itaboim que fica à beira da rodovia Rio-Bahia, entraria para o noticiário depois que o prefeito plantou lindas e tenras palmeiras para enfeitar a estrada. Com inveja, a oposição (de madrugada) soltou 100 cabritos que comeram as palmeiras.