O candidato chavista Nicolás Maduro, 50, do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), foi eleito presidente da Venezuela nesta segunda-feira (15) em disputa com o oposicionista Henrique Capriles, 40, do MUD (Mesa de Unidade Democrática). Capriles disse, em pronunciamento na madrugada desta segunda (15), que não reconhece o resultado e que pedirá uma recontagem dos votos.

A eleição de Maduro, que estava no cargo de presidente interino desde a morte de Hugo Chávez, em 5 de março passado, foi anunciada pela presidente do CNE (Conselho Nacional Eleitoral) Tibisay Lucena às 0h45 da segunda-feira (15) (23h15 do domingo (14) no horário venezuelano), no primeiro boletim oficial que poderia ser divulgado em caráter “irrevogável”. O mandato para o qual ele foi eleito vai até 2019.

Com 99,12% dos votos apurados, Maduro tinha 50,66% da preferência do eleitorado, ou 7.505.338 votos. Capriles tinha 49,07%, com 7.270.403. A diferença entre os dois candidatos era de 234.935 votos. Segundo CNE, 78,71% dos venezuelanos aptos a votar participaram das eleições.

Durante a espera pelo resultado, governo e oposição trocaram acusações

Oposição e governistas trocavam acusações na noite deste domingo (15), à espera dos resultados da eleição que apontou o sucessor de Hugo Chávez na presidência da Venezuela.
“Alertamos o país e o mundo sobre a intenção de mudar a vontade expressada pelo povo” venezuelano, escreveu o candidato opositor Henrique Capriles no Twitter.
“Exigimos da reitora Tibisay Lucena (do Conselho Nacional Eleitoral) o fechamento das seções eleitorais. Estão tratando de votar com as seções fechadas!”,  denunciou Capriles.

REPÓRTER DO UOL NA VENEZUELA CONTA COMO FOI O DIA DE VOTAÇÃO

O vice-presidente venezuelano, Jorge Arreaza, reagiu advertindo que Capriles e a oposição devem ter “muito cuidado” com as denúncias. “Vamos ter consciência e respeitar o povo, nossos filhos e filhas, nosso futuro.”

“Se vocês têm algum tipo de denúncia, aqui há instituições, há o Conselho Nacional Eleitoral. Oxalá isto seja (a denúncia) porque ‘hackearam’ a conta de Capriles como ‘hackearam’ a do presidente Nicolás Maduro“, disse o vice-presidente.

O chefe da campanha ‘chavista’, Jorge Rodríguez, qualificou a denúncia de Capriles de “provocação” e “expressão da permanente agressão contra a institucionalidade democrática venezuelana”.
Mais cedo, Rodríguez havia denunciado um ataque de hackers “à conta do nosso presidente (interino), candidato da pátria e filho de (Hugo) Chávez, Nicolás Maduro, e à conta do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV)”.
A ação “é mais uma amostra do grande desespero (da oposição) e queremos fazer um apelo ao comando antichavista para que conserve a calma, que na democracia se ganha e não se perde”, disse Rodríguez, atribuindo o ataque a “inescrupulosos e promotores da guerra suja elaborada a partir de Bogotá”.

Maduro foi escolhido por Chávez para continuar seu governo

O sucessor direto do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, morto em 5 de março, vítima de um câncer, tem a tarefa de consolidar a “Revolução Bolivariana”, implementada por Chávez durante seus 14 anos no poder.

Durante a campanha, Maduro não poupou referências ao ex-presidente. Em declarações consideradas polêmicas, ele chegou a dizer que havia se comunicado com Chávez personificado em um pássaro.

“O passarinho me olhou de forma estranha, assobiou um pouquinho, me rodeou e foi embora. Eu senti o espírito dele (Chávez) como que nos dando uma bênção.”, disse.

Em outra declaração afirmou: “Não sou Chávez, mas sou seu filho. E todos juntos, o povo, somos Chávez.”

Maduro também não poupou críticas ao adversário, já destiladas por Chávez que o enfrentou na última campanha presidencial em outubro de 2012. Capriles foi chamado de “burguês racista”, “fariseu” e “farsante” por sua origem abastada.

O caminho de Maduro à presidência foi traçado no ano passado, quando foi nomeado vice-presidente em outubro, ocupando o cargo de Elías Jaua, que concorreu ao posto de governador do Estado de Miranda, perdendo para Capriles.

Em dezembro, Chávez precisou mais uma vez voltar a Cuba para tratar a doença e na ocasião pediu pela TV que os venezuelanos votassem em Maduro caso fossem convocadas novas eleições.
O pedido alarmou a população que, até o seu retorno à Venezuela dois meses depois, protagonizou correntes de oração em favor a sua recuperação.

Maduro tomou posse como presidente interino três dias depois da morte de Chávez, que ele mesmo informou oficialmente com a voz embargada.
Em seu primeiro decreto no cargo, declarou sete dias de luto nacional e pediu a convocação de novas eleições, como determinado pelo Constituição venezuelana.

Amizade com Chávez

Ex-ministro das Relações Exteriores do país, Maduro tornou-se o político mais próximo a Chávez desde que o ex-presidente foi diagnostico com câncer, em maio de 2011.
Sua amizade com Chávez, no entanto, começou em 1992, quando o ex-presidente foi preso por uma tentativa de golpe.

Na época, Maduro foi uma das vozes mais ativas pela libertação de Chávez, que estava preso na cadeia de Yare.
Durante o período de ativismo, o atual candidato chavista conheceu sua mulher, a advogada Cilia Flores.

A amizade com Chávez se fortaleceu a ponto de se tornar o principal confidente do ex-presidente.
No período em que o então presidente venezuelano estava sob tratamento contra o câncer, Maduro teve acesso a detalhes médicos, em um tratamento que virou segredo de Estado.

Carreira política

Maduro militou por muitos anos na Liga Socialista, uma organização política revolucionária que, após muitas fusões, ajudou a criar o chavista PSUV.
Entre 1991 e 1998, o candidato trabalhou como condutor do metrô de Caracas. Durante este período, foi presidente do sindicato da categoria.

Também durante a década de 1990, participou do MVR, partido pelo qual participou da campanha eleitoral de 1998, que elegeu Hugo Chávez presidente da Venezuela.

No ano seguinte, foi eleito deputado e participou da Assembleia Constituinte de 1999. Em 2000 e 2005 foi eleito novamente deputado.
Em 2006, a pedido de Hugo Chávez, deixou sua cadeira na Assembleia para assumir como ministro das Relações Exteriores da Venezuela (chamado pelo governo chavista de Ministério do Poder Popular para os Assuntos Exteriores).

Chanceler chavista

A escolha de Maduro como chanceler venezuelano foi criticada pelo fato de o atual candidato não ter formação universitária. Chávez costumeiramente citava Maduro como exemplo de alguém do povo que chegou ao poder.

Como chanceler, apesar de manter as criticas chavistas ao “império norte-americano”, Maduro era conhecido por ser uma voz mais afável no governo de Chávez.

Mesmo assim, Maduro entrou em conflito com os Estados Unidos quando, por exemplo, chamou  o subsecretário de Estado dos Estados Unidos John Negroponte de “funcionariozinho”.

Maduro também criticou ferozmente seu atual adversário, Henrique Capriles, quando o rival disputou a presidência contra Chávez.

“Ele é uma bichona fascista”, afirmou na ocasião. Maduro precisou se desculpar e disse que “não especularia com a opção sexual de Capriles nem de ninguém”. (Com agências internacionais)