O consumo de cafés especiais, também conhecidos como gourmet, cresce cerca de 15% ao ano, contra 3% dos cafés tradicionais no Brasil, segundo estimativas da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, sigla em inglês).

No Dia Nacional do Café, comemorado nesta sexta-feira (24), Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café) diz que cada vez mais empreendedores estão apostando em cafés gourmet e tendo sucesso no mercado.

Ele afirma que os cafés especiais correspondem, atualmente, a 4% do volume e a 9% do valor em vendas do setor. A expectativa é que, nos próximos dez anos, eles representem de 10% a 12% do volume produzido.

“O café ganhou status no país. Os brasileiros estão mais educados para o consumo, assim como os conhecedores de vinho, que sabem a origem e as características das bebidas”, diz Herszkowicz.

Arthur Moscofian, proprietário do Café Gourmet Santa Monica, empresa produtora de café especial que está no mercado há 35 anos, diz que o crescimento da procura por esse tipo de grãos começou a aumentar há, aproximadamente, dez anos.

“Os brasileiros estão viajando mais para o exterior, tendo contato com produtos de maior qualidade e apurando seu paladar. Quando voltam, passam a exigir que o restaurante e a cafeteria que frequentam ofereçam produtos melhores”, declara.

A empresa de Moscofian tem cinco fazendas próprias, duas torrefadoras –que torram os grãos– e atende restaurantes e cafeterias de todo o Brasil, além de exportar para América do Norte, Europa e Ásia.

Ele diz que os cuidados para se produzir um café especial começam na colheita –a seleção dos grãos é feita manualmente, enquanto a dos demais é feita com máquinas– e passam pela estocagem e transporte das sacas, torra e moagem dos grãos, até o preparo e a hora de servir. As diferenças em relação ao café comum são muitas.

“O café gourmet é adocicado e de sabor intenso. Ele tem uma coloração mais esverdeada e não deixa a boca amarga depois do consumo”, diz Moscofian.

Com isso, segundo ele, é possível vender de três a quatro xícaras para um mesmo cliente, enquanto com o café comum, amargo, se vende apenas uma. O sabor diferente também aumenta as chances de conquistar as pessoas que não gostam do café comum.

A paixão pelo café motivou o engenheiro florestal Diego Gonzales, 32, a abandonar a carreira e abrir o Sofá Café, rede de cafeterias gourmet.

São três unidades em São Paulo e uma que será inaugurada em agosto, em Boston, nos Estados Unidos. Além disso, ele pretende lançar a franquia da marca até o fim do ano.

“Enquanto meus amigos de faculdade iam para o bar beber cerveja, eu ia para a cafeteria. Sempre sonhei ter uma quando me aposentasse, mas a oportunidade surgiu antes”, diz

O investimento inicial para abertura da primeira unidade, em Pinheiros, inaugurada em julho de 2011, foi de R$ 400 mil, entre ponto comercial, equipamentos e cursos de barista, para aperfeiçoar o conhecimento sobre a bebida. O faturamento da loja é de cerca de R$ 500 mil por ano.

“Escolhi o café gourmet para me diferenciar, pois eu sabia, desde o início, que iria competir com grandes empresas, como Fran’s Café, Starbucks e Suplicy. Além disso, o café cultivado de forma especial, orgânico, me aproxima da minha área, a engenharia florestal”, declara.

Desde janeiro, a própria cafeteria faz a torra dos grãos. Durante esse processo, é possível acentuar ou diminuir características da bebida, como acidez e sabor mais adocicado. Além de controlar a qualidade do produto, ele reduziu custos.

“Antes, cada vez que queria mudar o sabor da bebida, eu precisava pagar para a empresa terceirizada mudar o processo. Agora tenho mais liberdade para criar”, afirma Gonzales.

Já o cafeicultor Luiz Claudio Cruz queria vender seu produto diretamente para o consumidor final. Para isso, ele lançou, em agosto do ano passado, o Clube Café, serviço que entrega cafés gourmet na casa dos assinantes. Com uma mensalidade a partir de R$ 14,90, é possível receber, todo mês, cafés especiais para preparar em casa.

O valor garante ao assinante a entrega de um pacote de pó de café (do tipo que ele escolher) de 250 gramas por mês.

“Em muitos lugares ainda é difícil o acesso a cafés diferenciados. Eu tenho assinantes em todos os Estados, menos no Acre e no Amapá. Como sou produtor, o café chega sempre fresco, o que é essencial para a qualidade”, declara.

O investimento inicial para abertura do negócio foi de R$ 150 mil e a meta é conquistar mil assinantes até agosto deste ano. Cruz não revela o faturamento mensal.

A produção de cafés especiais no Brasil tem oscilado em torno de 2,5 milhões de sacas de 60 quilos ao ano. Desse volume, cerca de 1,5 milhão de sacas são exportadas e um milhão de sacas são consumidas internamente, de acordo com estimativas da BSCA.