Há exatos cinco anos o Ibovespa, índice que serve como referência para o desempenho da Bolsa de Valores de São Paulo, marcava 73.516 pontos. Era o pico histórico do principal termômetro dos negócios com ações no país.
Hoje longe daquele patamar (com 55.164 pontos na última sexta), o índice não dá sinais de recuperação em médio prazo.
À época do recorde, o país acabara de obter o chamado “grau de investimento”, selo de bom pagador de dívida. Os bancos Pactual e Credit Suisse tinham levado 89 empresas para abrir o capital no Novo Mercado (segmento de alta transparência da Bolsa). O empresário Eike Batista captava R$ 6,7 bilhões (que valem hoje R$ 1 bilhão) para a OGX, então um projeto de exploração de petróleo.
“Havia um excesso de dinheiro que levou às alturas preços de ações, commodities e imóveis. Nos EUA, havia dinheiro até para financiar compra de imóvel para quem não tinha trabalho fixo. Claro que não se sustentou”, disse Carlos Nunes, estrategista de renda variável do HSBC.
A bolha estourou, os EUA deixaram quebrar o banco Lehman Brothers e sinalizaram que não haveria mais socorro. Depois, tiveram de voltar atrás para evitar a implosão do sistema financeiro.
No Brasil, em cinco meses o Ibovespa derreteu 60% e atingiu o fundo do poço, marcando 29.067 pontos.
O então presidente Lula chamou a crise de “marolinha”, veio a recuperação, e a Bolsa subiu 82,6% em 2009.
No capítulo atual, a Bolsa brasileira se tornou a de pior desempenho entre os dez maiores mercados, com perda de 39,10% em dólares (veja ao lado). Está atolada na casa dos 50 mil pontos e acumula perda de 9,5% no ano.
Na semana passada, os 55.164 pontos do Ibovespa representavam uma queda de 24,9% em relação ao 20 de maio de 2008. E isso sem considerar a inflação do período.
Se fosse corrigido pelo IPCA, os 73.516 de cinco anos atrás seriam hoje 97.362, segundo a consultoria Economática. Ou seja, o Ibovespa precisa subir 43,3% para voltar ao nível de 2008.
O mesmo investidor estrangeiro que tornou o Brasil o “queridinho do mercado” vai procurar oportunidades em mercados mais promissores -como EUA, México e Japão- de crescimento mais comedido, porém, contínuo.
“Da mesma forma que havia uma euforia desmedida em 2008, agora há um excesso de pessimismo com o Brasil”, disse Álvaro Bandeira, sócio da gestora Órama, e veterano de crises na Bolsa.
Pessimismo em parte explicado pelo alto intervencionismo do governo Dilma, que impediu a Petrobras de subir a gasolina, fez os bancos públicos reduzirem juros para forçar competição com os privados e diminuiu o ganho das empresas de energia para tornar mais barato o custo da eletricidade.
“O governo passa a sensação de que lucro é demoníaco. O investidor estrangeiro e o nacional têm que sentir que o Brasil é uma terra de oportunidade”, diz Ricardo Rocha, professor do Insper.
Editoria de Arte/Folhapress | ||