O cartunista Laerte Coutinho encara todo dia o desafio de ter migrado de um gênero para o outro. Mas a situação mais complicada de seu cotidiano é usar banheiros públicos: já foi expulso de toiletes femininas e masculinas. “O banheiro é tão sacralizado como culto de gênero que é o altar, a igreja dos heterossexuais”, define.
Ele conta que desde 2004 vive o processo que tornou público em 2010, assumindo uma figura feminina após décadas de notoriedade como quadrinista, o Laertón das tiras “Los Três Amigos” e um pai de família e o pai dos “Piratas do Tietê”.
Em entrevista ao UOL prévia à Parada do Orgulho LGBT, Laerte fala do ativismo recente, da mudança em sua carreira e da realidade de ser um transgênero no Brasil. “A questão dos transgêneros sempre pegou carona no movimento gay, mas tem bandeiras próprias e precisa muito mais de direitos civis”, opina o/a cartunista de 61 anos.
Laerte chegou a adotar o nome social de Sônia, mas voltou atrás. “No meu caso, eu decidi continuar como Laerte, porque eu era muito conhecido”, argumenta.
“Eu sou gay entre outras coisas. Mas, se gay é o homossexual masculino exclusivo, então eu não sou. Eu sou bissexual. Mas eu me classifico mesmo como feminina”, se define Laerte.