Horas antes da manifestação que pede a revogação do aumento da tarifa dos transportes públicos em São Paulo, marcada para as 17h desta segunda-feira (17) no Largo da Batata, zona oeste da capital paulista, a reportagem do UOL percorreu a região e constatou a presença de materiais de construção em locais de livre acesso à população. Os materiais, como blocos de concreto, pisos de cerâmica e pedaços de madeira, serão usados nas obras de complementação do Largo da Batata e entorno. 

Segundo a assessoria da Prefeitura de São Paulo, até o momento não há qualquer informação sobre a retirada dos objetos do local.

Após a publicação da reportagem, o secretário estadual da Segurança Pública, Fernando Grella, determinou a “imediata retirada” dos materiais de construção que estavam nas imediações da estação de metrô Faria Lima, no Largo da Batata. Segundo a secretaria, o governo considerou inadmissível a presença do material na região diante dos protestos marcados para esta segunda. O material deve ser encaminhado para a sub-prefeitura de Pinheiros.

Mais de 240 mil pessoas confirmaram, pelo Facebook, participação no quinto ato de hoje. Alguns ativistas acreditam que a presença dos objetos no local pode ser uma armadilha para levar os manifestantes à agressão e justificar a reação da polícia, por isso, no evento criado na rede social, a orientação é para ninguém tocar no material e tomarem cuidado com a “cilada”. O grupo pede que não haja violência e sugere que as pessoas levem flores para a manifestação.

 

Por garantia, a estação Faria Lima, que fica perto do ponto de concentração do protesto, foi cercada por tapumes. De acordo com a concessionária Via Quatro, que administra a única linha privatizada de Metrô da capital, a medida é preventiva.

O protesto da última quinta-feira (13) foi o mais violento. Em entrevista no domingo (16), a SSP afirmou que a tropa de choque não será acionada, e que pessoas não serão presas se levarem vinagre.

Já os manifestantes disseram que vão filmar e denunciar a repressão dos PMs durante a próxima passeata. As denúncias de abuso policial, principalmente de oficiais infiltrados na manifestação para “criar tumulto e quebra-quebra para culpar o movimento” serão levadas pelo grupo à corregedoria da PM.

Na manifestação de quinta-feira, a PM mobilizou grande aparato, com tanques blindados, helicópteros e até a cavalaria. Além da Tropa de Choque, policiais da Rota e da Força Tática atuaram na repressão, totalizando efetivo de 900 homens.

Segundo relato da repórter do UOL, Janaina Garcia, a polícia atirou indiscriminadamente contra manifestantes, transeuntes e jornalista a trabalho. Veja o relato.

De acordo com a polícia, 241 pessoas foram detidas, sendo que cerca de 40, antes mesmo de o protesto começar. Manifestantes e jornalistas que carregavam vinagre —como o repórter Piero Locatelli, da revista “Carta Capital”— para reduzir os efeitos de bombas de gás lacrimogêneo foram detidos, sob a alegação da PM de que o produto pode ser usado para fabricar bombas caseiras.  

Segundo o Movimento Passe Livre, pelo menos cem ficaram feridos. Entre os feridos, sete são jornalistas da Folha de S.Paulo. A repórter Giuliana Vallone, da TV Folha, foi atingida no olho por uma bala de borracha disparada por policiais militares da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). O fotógrafo Sérgio Silva, da agência Futura Press, foi atingido por uma bala de borracha no olho e ainda se recupera de uma cirurgia. Ele corre o risco de perder a visão.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que está “sempre aberto ao diálogo, mas não é possível permitir atos de vandalismo”. Alckmin se negou a dizer que houve excessos da PM.

Já o prefeito Fernando Haddad (PT), disse que “não ficou bem” para a PM a repressão aplicada durante o protesto. Ele destacou que o reajuste de R$ 0,20 na tarifa de ônibus foi o menor reajuste dos últimos tempos, e se disse disposto a “explorar alternativas” para o aumento.