Enjoo, sono, dor nos seios, ausência do fluxo menstrual e, claro, barriga crescendo a cada mês, esses são os sintomas básicos de qualquer mulher quando está grávida. O problema é que vem crescendo gradativamente o número de mulheres, que só descobrem que estão grávidas praticamente na hora do parto. O que todo mundo questiona é se isso é realmente possível acontecer.
Para tirar a dúvida de muitas mulheres, a reportagem conversou com a médica ginecologista e obstetra, Luci Carla Pereira, que afirma que já atendeu caso de mulher que descobriu que estava com a gravidez avançada no plantão da Santa Casa de Dracena e na época em que fez residência médica, onde nesse caso, na maioria das vezes, a paciente escondia a gestação dos familiares e em casos isolados a gestante descobria a gravidez a partir das 20 semanas (cinco meses) de gestação.
“Percebemos uma incidência maior, porque as pacientes entram pelo Pronto Socorro questionando de dores abdominais e ao ser examinada e diagnosticada pelo médico plantonista, ele chama no mesmo momento o obstetra da Santa Casa. Aliás, há algumas semanas atrás, teve uma paciente que chegou com uma forte dor abdominal e na hora que foi examinada no PAM estava tendo o bebê que acabou nascendo prematuro com sete meses”, diz a médica.
Luci Carla pontua que o primeiro sintoma para uma gestação é o atraso menstrual e, mesmo tendo relatos de pacientes que afirmam que menstruaram praticamente todo mês, a verdade é que o que acontece não é um fluxo comum. “Ela pode vir a ter um fluxo de sangue menor do que o normal e com a coloração diferente, sendo mais escura. Por isso, ela pode vir a sangrar sim até as 20 semanas de gravidez”, explica.
Na primeira gestação, a mulher sentirá o bebê mexendo somente a partir das 20 semanas. Por isso, se a mulher tem algum sobrepeso, realmente fica mais difícil perceber a gravidez antes desse período. “Só que após os cinco meses, é impossível não sentir o bebê mexendo e não perceber que é uma criança. O que pode mexer dentro da barriga é um mioma volumoso ou alguma massa ovariana que pode causar uma movimentação no abdômen, por causa do intestino que tem um movimento próprio dele que faz os órgãos mexerem. Mas sentir um bebê mexer e um mioma mexer é totalmente diferente de qualquer outra sensação”, frisa.
Em relação ao peso, o ideal é que a mulher engorde de 9 a 12 quilos na gravidez, que seria o excesso de peso pelo bebê, líquido amniótico, placenta e anexos dessa placenta. “Nas mulheres magras é possível notar a diferença na barriga logo no início da gestação, já nas com sobrepeso ainda conseguem encobrir mais facilmente a gestação, escondendo-se pela própria obesidade. Mas o útero é sentido a partir das 20 semanas que acaba tornando-se mais evidente e é quando o feto começa a ganhar de 30 a 50 gramas por dia nessa fase”, salienta a médica ginecologista.
RISCOS – O problema de perceber uma gestação tardia, é que a paciente tem que fazer um pré-natal acompanhado por um médico que irá ver tanto o lado materno quanto o lado fetal. Principalmente para analisar e tratar qualquer doença materna pré-existente ou alteração de exames que possa a vir surgir ao longo dos nove meses de gestação.
Um dos maiores riscos e que se não tratado pode ocasionar um trabalho de parto prematuro é a infecção urinária, cárie ou qualquer tipo de corrimento. “A assistência pré-natal é justamente para evitar alguma intercorrência na gestação, por isso, nas gestações descobertas tardiamente, às vezes não conseguimos interferir. O médico não consegue suplementar as vitaminas necessárias para o bebê, o que acaba gerando uma gestação mal acompanhada que pode evoluir sim, para um trabalho de parto prematuro”, conta.
MEDICAMENTOS – Em caso de mulheres que continuaram tomando anticoncepcional, sem saber que estava grávida, ou qualquer outro medicamento não indicado para as mulheres que estão nessa fase, à falta de informação pode causar sérios problemas.
Luci Carla explica que remédios como antibióticos, remédios para ansiedade e depressão cortam o efeito do anticoncepcional e nas mulheres grávidas, dependendo da fase da gestação, esses medicamentos pode ocasionar um aborto, principalmente nos três primeiros meses, além de afetar uma má formação no bebê, ou seja, inúmeras alterações podem acontecer com a criança caso a mulher não receba orientações médicas.
TESTE DE SANGUE – A gravidez pode ser confirmada por teste de sangue colhido em laboratório que detecta o beta HCG (substância responsável pela gestação). “Peço para as pacientes evitarem o teste de farmácias. Apesar de serem muitos bons, é o mesmo valor do beta HCG sanguíneo e, de qualquer forma a mulher vai ter que colher o do laboratório, então por isso, que já faça o teste de sangue primeiro”, salienta a médica.
O exame de sangue é tão eficaz, que em caso de positivo é possível detectar em média com 10 dias de atraso menstrual e caso a paciente perca o bebê, em qualquer fase da gestação, ele continuará dando positivo por até dez dias na corrente sanguínea.
PÍLULA DO DIA SEGUINTE – Recentemente o governo disponibilizou gratuitamente a distribuição da pílula do dia seguinte em todos os postos de saúde do País sem a necessidade de receita médica. Entretanto, esse tipo de ação vem gerando controvérsias para os profissionais da saúde.
A médica explica que a pílula do dia seguinte é um método contraceptivo de emergência, como por exemplo, camisinha que estourou, relação sexual sem preparo. “Sou extremamente contra colocar esse medicamento nos postos de saúde, devido o uso indiscriminado dessa pílula vai fazer com que a paciente tenha alterações hormonais e do ciclo menstrual. Há estudos que mostram que o uso de três pílulas do dia seguinte na vida, quando usado pela quarta vez a mulher irá engravidar, porque é uma pílula de progesterona (hormônio pró-gestação), além de não proteger de doenças sexualmente transmissíveis é equivalente a mulher tomar uma cartela inteira de anticoncepcional”, conta.
O uso indiscriminado deste medicamento também pode causar aumento de peso, irregularidade menstrual, inchaço, dor de cabeça e problemas no fígado.
PREMATURO – Um dos grandes problemas enfrentados pelas mães ao terem o bebê prematuro é a falta de UTI neonatal nos hospitais da região. A cidade mais próxima a ter essa estrutura, é o hospital de Presidente Prudente que se encontra lotado, devido aos atendimentos dos 48 municípios de abrangência.
Luci Carla salienta que o ideal é que a criança nasça com 38 semanas completas de gestação (nove meses), mas a gestação pode evoluir até 41 semanas e seis dias. Então a criança deixa de ser prematura a partir dessas 38 semanas.
“Em casos prematuros, o bebê necessita de cuidados especiais, porque o pulmão não está maduro. Caso alguma criança prematura nasça no hospital de Dracena ou das cidades vizinhas terá que transferir essa criança urgentemente para alguma cidade com UTI neonatal. Mas para verificar se existe vaga, a nova medida é entrar em contato com a Central Reguladora de Vagas, que fica em São Paulo, e ela mostrará o local mais próximo que a criança pode ser transferida. Às vezes ocorre de ser em Assis, Botucatu, Bauru. Imagina levar essa criança prematura, necessitando de um respirador, de todos os cuidados especiais para uma viagem longa? Isso pode afetar o bebê e gerar sequelas graves, principalmente a pulmonar”, explica.
Em relação ao número de vagas para transferências nos hospitais com UTI neonatal, Luci Carla conta que está cada vez mais difícil conseguir uma vaga e lembra que boa parte da prematuridade da para ser evitada durante as consultas de pré-natal.
“A prematuridade hoje no Brasil é a maior causa de morte neonatal. Geralmente, quem mais esconde a gestação são as adolescentes. Hoje em dia houve um aumento da taxa de natalidade nas jovens que escondem porque é uma questão sociocultural, que na maioria das vezes ela não tem um namorado fixo, ou é da mesma idade, medo dos pais não aceitarem. A maior parte dos casos de atendimentos na clínica é de adolescentes que escondem a gravidez ou de moças que ainda moram com os pais e não têm um relacionamento sério”, conclui a médica ginecologista e obstetra.