O ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho voltou a defender em juízo a entrada da Polícia Militar no presídio do Carandiru, em outubro de 1992, durante depoimento prestado nesta terça-feira (30) no júri de PMs acusados pelo massacre de presos da unidade.

Testemunha de defesa, Fleury afirmou ter ido “dormir com a notícia de 60 presos mortos” na noite de 2 de outubro, véspera de eleições municipais. Ele já havia sido ouvido no júri de PMs do caso realizado em abril passado.

“Não dei a ordem [de entrada da PM], mas se estivesse no meu gabinete com as informações que eu recebi, teria dado a ordem”, declarou.

O ex-governador afirmou ter tido informações de seu então secretário de segurança pública, Pedro Franco de Campos, sobre uma suposta rebelião com presos mortos e focos de incêndio no pavilhão 9.

“Não há dúvida alguma de que era necessária e se fazia necessária a entrada da PM naquelas circunstâncias, foi legítima e necessária”, afirmou.

Indagado sobre a responsabilidade política pelo massacre pela advogada dos réus, Ieda Ribeiro de Souza, disse: “Minha polícia não se omitia. Naquela época não tinha presos jogando futebol com cabeça de outro preso [durante rebelião em presídio], seria uma omissão criminosa. Então, a responsabilidade politica é minha”, concluiu.

“No presídio não tem só santinho”, diz ex-secretário

Antes, o secretário de Segurança Pública do Estado à época do massacre do Carandiru, Pedro Franco de Campos, disse que não há “santinho” em presídios.

Indagado pelo promotor Fernando Pereira da Silva sobre notícia de arma de fogo apreendida em presídio –no Carandiru, segundo a defesa, foram 13 apreensões –, Campos afirmou: “A maior lição que a gente tira é da vida, e o jornal mostra isso para a gente de vez em quando. Lá [nos presídios] não tem só santinho, a gente sabe disso”.

Por outro lado Campos, também procurador de Justiça, alegou nunca ter tido “notícia de apreensão de arma de fogo” em presídios do Estado enquanto chefiou a secretaria, de março de 1991 a outubro de 1992.

O ex-secretário afirmou logo no início do depoimento que reiteraria outros depoimentos –como o prestado em abril, no júri em que 23 PMs foram condenados a 156 anos pela morte de 13 presos do segundo pavimento.