As manifestações populares que ocorreram nos últimos dias por todo o Brasil não devem estar presentes no Exame Nacional do Ensino Médio – Enem de 2013. A constatação tem base técnica e leva em conta todo o processo necessário para criação e validação das questões. É o que afirma o especialista em métricas educacionais Tadeu da Ponte, da Primeira Escolha, empresa especializada em avaliações educacionais, que não descarta, porém, a cobrança dos protestos em redação e de temas semelhantes e anteriores relacionados às manifestações.
O processo de produção de questões para o Enem acontece da seguinte maneira: após recrutar e treinar especialistas de conteúdos, em geral, professores, o Inep, órgão responsável pelo Enem no Ministério da Educação, recebe desses profissionais uma série de questões, as quais passam por uma avaliação qualitativa criteriosa, até que sejam pré-testadas. Nesta fase, além de identificar os itens válidos e inválidos, o pré-teste possibilita a calibragem dos parâmetros das questões, ou seja, a validade estatística e o nível de dificuldade de cada uma delas, fundamentais para uma prova em larga escola como é o Enem. As questões consideradas válidas são aceitas no Banco Nacional de Itens, e só então passam a estar prontas para serem inseridas no exame.
Segundo Tadeu da Ponte, caso haja no Enem 2013 questões de múltipla escolha abordando situações específicas dos protestos observados em junho deste ano, o Inep poderá sinalizar que nem todas as questões são pré-testadas. “Se isso ocorrer, não afeta a integridade da prova, do ponto de vista de sigilo, mas a comparabilidade dos resultados de um ano para o outro poderá ficar comprometida”, ressalta. Contudo, o especialista acredita que independentemente disso, o Inep não irá mexer no exame, que muito provavelmente já deve estar pronto. “O Enem já exige um alto nível crítico e reflexivo dos estudantes e não precisaria incluir as manifestações para refletir as questões sociais. Isto é feito desde as primeiras edições”, completa.
Redação e temas anteriores relacionados – Diferentemente das questões de múltipla escolha, em redação, o Enem pode inserir acontecimentos mais recentes na coletânea de textos que dão base à proposta. Neste caso, pode haver tempo para a inclusão dos protestos, já que em redação não é necessária a etapa de pré-testes. Ele lembra ainda que temas atuais, desencadeadores das manifestações, também podem entrar, mas somente aqueles contidos em questões tecnicamente validadas no Banco Nacional de Itens.