A auxiliar de escritório Michele Martins, 30, moradora de Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro, que teve a casa destruída após o rompimento de uma adutora da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) na estrada do Mendanha, na manhã desta terça-feira (30), disse que teve que esperar pelo resgate do Corpo de Bombeiros para conseguir sair de casa.

“Quem tentou atravessar a rua está no hospital. A água levava tudo embora”, contou Michele. “O bombeiro saiu com minha mãe nas costas.”

Michele disse que quando a água começou a subir ela foi até a laje da casa e sinalizou pedindo ajuda a um helicóptero dos Bombeiros que sobrevoava o local. Na casa estavam também a mãe da moradora, Ana Maria Martins, 61, e os dois filhos de Michele, de seis e 11 anos.

“Achei que fosse chuva”, disse Ana Maria, afirmando que assim que a água entrou na residência começou a colocar os pertences pessoais em cima da beliche, mas não adiantou pois a água alcançou cerca de 2 m dentro da casa.

Na rua onde a família morava, o cenário era de destruição. Tijolos espalhados, árvores arrancados e postes derrubados davam a dimensão da tragédia no bairro. Às 13h, ainda havia meio metro de água alagando o local.

O dono de um bar próximo ao local onde a adutora rompeu afirmou que chegou ao local por volta das 7h30, quando já havia perdido eletrodomésticos no alagamento. “Isso aqui alagou tudo, perdi dois freezers, um retroprojetor. Cheguei 7h30 aqui e fiquei apavorado. A água batia no meu joelho”, contou.

Tragédia

O rompimento da adutora alagou casas, arrancou telhados e arrastou carros. Uma criança de três anos morreu. A vítima foi identificada pelo Corpo de Bombeiros como Isabela Severo da Silva. Após ser atendida no hospital Rocha Faria, em Campo Grande, Isabela teve parada cardiorrespiratória e não resistiu.

Outras 16 pessoas foram resgatadas com ferimentos, das quais oito foram encaminhadas ao hospital Rocha Faria. Segundo boletim da Secretaria Estadual de Saúde, há duas crianças e cinco adultos. Apenas uma vítima recebeu alta.

As sete pessoas hospitalizadas apresentam quadro clínico estável, informou o órgão estadual. A maioria teve escoriações. Uma criança e um adulto passaram por tomografia e aguardam avaliação cirúrgica.

Técnicos da Defesa Civil que estão no local informaram que houve o desabamento de 17 casas em função da força da água. Outras 16 foram atingidas parcialmente. O acidente deixou 72 pessoas desabrigadas e 70 desalojadas.

Na conta da Cedae

O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), afirmou que a Cedae se responsabilizará pela construção das casas que foram destruídas após o rompimento da adutora.

“Viemos aqui para prestar apoio, solidariedade e acolhimento para as famílias atingidas. A Cedae irá ajudar na reconstrução das casas e alojamentos das famílias. Acima de tudo, viemos aqui para prestar nossa solidariedade. Não vamos medir esforços para ajudar essas famílias”, afirmou Cabral, que não quis responder perguntas sobre protestos.

A entrevista foi encerrada depois de cerca de cinco minutos e os dois saíram da sala, com seguranças e assessores, para pegar uma van com vidros escuros que os levaria embora, estacionada no pátio da escola. Quando a van cruzou o portão e chegou à rua, moradores cercaram o veículo e xingaram o governador e o prefeito de “safados” e “corruptos”.

O governador e o prefeito não estiveram com as famílias que perderam suas casas, apenas com os jornalistas.

Água jorrando por uma hora e meia

O rompimento da adutora, cujas circunstâncias ainda estão sendo investigadas, fez com que a água ficasse jorrando por aproximadamente uma hora e meia –o vazamento teve início durante a madrugada e só cessou por volta das 7h30.

Bombeiros designados para o trabalho de resgate informaram que a água chegou a dois metros de altura dentro das casas. Quatro carros da corporação e duas ambulâncias foram encaminhados ao local –houve relatos de moradores ilhados nas casas.