Depois de uma segunda-feira intensa, não há eventos oficiais com participação do papa Francisco programados para esta terça-feira (23), segundo dia de estada do pontífice no Rio de Janeiro. A dúvida é se Francisco permanecerá o tempo todo na Residência Assunção, no Alto da Boa Vista (zona norte), onde está hospedado, ou se participará de alguma atividade “surpresa”.
Nesta terça, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) começa oficialmente, com eventos na praia de Copacabana, onde foi montado um palco: às 8h15, haverá uma missa, seguida de entrevistas coletivas sobre a JMJ; às 15h30, o cardeal dom Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo, concederá entrevista; por fim, às 18h, o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, celebrará a missa oficial de abertura da jornada.
Amanhã, Francisco viajará de helicóptero, logo pela manhã, à Aparecida (180 km de São Paulo), onde fará a veneração da imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, no Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Em seguida, Francisco participará de uma missa na qual celebrará a homilia, sermão de pregação do Evangelho.
Após a celebração, o pontífice irá almoçar com a comitiva papal, bispos e seminaristas no Seminário Bom Jesus de Aparecida. Às 16h10, está previsto o retorno de Francisco ao Rio, de helicóptero. Na sequência, o pontífice visitará o Hospital de São Francisco de Assis, na Tijuca (zona norte), dedicado ao tratamento de dependentes químicos e alcoólicos. O papa deverá fazer um discurso no local.
Primeiro dia
O avião do papa Francisco pousou no Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio de Janeiro, às 15h43 de segunda-feira (22) depois de quase 12 horas de viagem desde Roma, na Itália. O avião, da companhia Alitalia, estava com as bandeiras do Brasil e do Vaticano nas janelas da cabine. Francisco foi recepcionado pela presidente Dilma Rousseff, pelo governador do Estado, Sérgio Cabral, e pelo prefeito da capital, Eduardo Paes, entre outras autoridades.
Durante percurso entre o aeroporto e a Catedral Metropolitana de São Sebastião, no centro, o papa cumprimentou fiéis, beijou crianças e chegou até a ficar preso no trânsito. Do Galeão, Francisco seguiu em carro fechado até a Catedral. O veículo que transportou o pontífice é um Fiat Idea, de cor prata. No banco traseiro, Francisco manteve a janela do carro totalmente aberta na maior parte do tempo e não usou cinto de segurança.
Na avenida Presidente Vargas, já no centro do Rio, o carro com o papa estacionou para que o pontífice cumprimentasse fiéis que o cercavam. Muitos conseguiram tocar no pontífice, enquanto seguranças se desdobravam para evitar o contato, que não estava previsto.
Ainda na Presidente Vargas, próximo ao cruzamento com a avenida Rio Branco, a comitiva papal acessou a pista que não estava interditada ao tráfego, ficando presa num engarrafamento de coletivos. Neste momento, centenas de fiéis se aproximaram do veículo com o papa. Uma mulher entregou uma criança para o pontífice pela janela do carro. Francisco a beijou e a devolveu à mulher.
Ao longo do percurso, cinco carros e duas motos escoltaram o carro que levava o papa, que circulou pela linha Vermelha e passou ao lado do complexo de favelas da Maré, na zona norte.
Por volta das 17h, o papa chegou à Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro, onde trocou o veículo fechado em que estava pelo papamóvel. Pelo menos 10 mil pessoas aguardavam a chegada do papa, segundo estimativa da Guarda Municipal. Os fiéis começaram a chegar às 9h.
De papamóvel, Francisco circulou por várias vias do centro, em meio à multidão de fiéis. Na avenida Graça Aranha, o pontífice beijou outras crianças. A comitiva do papa Francisco foi acompanhada por carros da Polícia Federal, da Guarda Municipal do Rio e da Polícia Militar.
Em seguida, para evitar os protestos que ocorriam perto do Palácio Guanabara, o pontífice embarcou em um helicóptero da FAB (Força Aérea Brasileira) que o transportou do Terceiro Comando Regional, no Castelo (centro), até o campo do estádio das Laranjeiras, do Fluminense, que fica ao lado do palácio, nas Laranjeiras (zona sul) do Rio de Janeiro. Na sede do governo fluminense, Francisco recebeu uma cerimônia de boas-vindas. Enquanto caminhava pelas dependências do clube, o papa foi saudado pelos sócios com gritos de “Nense” e “e ô e ô o Francisco é tricolor”.
No Palácio Guanabara, Francisco fez seu primeiro discurso, no qual afirmou que Jesus Cristo abre espaço para os jovens porque eles “não têm medo de arriscar a única vida que possuem”.
“Cristo abre espaço para eles [jovens], pois sabe que energia alguma pode ser mais potente que aquela que desprende do coração dos jovens quando conquistados pela experiência da sua amizade. Cristo ‘bota fé’ nos jovens e confia-lhes o futuro de sua própria causa: ‘ide, fazei discípulos”. Ide para além das fronteiras do que é humanamente possível e criem um mundo de irmãos. Também os jovens ‘botam fé’ em Cristo. Eles não têm medo de arriscar a única vida que possuem porque sabem que não serão desiludidos”, declarou o pontífice.
Antes dele, a presidente afirmou que os protestos realizados nos últimos meses no Brasil, protagonizados pela juventude, são uma “luta legítima por uma nova sociedade”. Em seguida, Dilma disse que “todos os avanços que conquistamos foram só o começo” e que “nossa estratégia de desenvolvimento vai exigir mais”. “A juventude brasileira foi protagonista e clama por mais direitos sociais. Os jovens querem viver plenamente. Estão cansados da violência que muitas vezes o tornam vítimas”, disse.
Depois da cerimônia, Francisco e Dilma se reuniram e trataram do combate à miséria. Em seguida, o pontífice seguiu de carro fechado até a Residência Assunção.
Enquanto o pontífice chegava à residência, PMs e manifestantes entravam em confronto na região de Laranjeiras. Ao menos sete pessoas foram detidas e quatro ficaram feridas.