Traumas e busca por novos ares fizeram com que sobreviventes da tragédia da boate Kiss, que completa seis meses hoje, deixassem a cidade de Santa Maria para reconstruir suas vidas.
O incêndio na casa noturna, que matou 242 pessoas em janeiro e feriu centenas, deixou no município do interior gaúcho um clima de consternação até hoje.
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A estudante Jéssica Duarte da Rosa, 20, é uma das pessoas que escaparam da tragédia e decidiram ir embora.
A jovem, que ainda se recupera de queimaduras, desistiu do curso de administração na Universidade Federal de Santa Maria e foi morar com os pais na região metropolitana de Curitiba.
Ela diz que “não faria sentido” continuar vivendo em Santa Maria sem o namorado, Bruno, que morreu devido ao incêndio.
“Não havia escolha. Eu fui para lá por causa dele. Não tenho mais motivos para voltar”, afirma.
O período de quase um mês hospitalizada em Porto Alegre despertou nela o interesse por uma nova carreira: fisioterapia. Nesta semana, a jovem voltou a estudar em um cursinho e pretende prestar vestibular na área.
Outra sobrevivente que optou pela mudança foi a auxiliar de enfermagem Aline Jacobsen, 26. Menos de um mês depois do incêndio, foi para Caxias do Sul, na serra gaúcha, onde moram tios.
“Fiz tratamento psicológico, passei uns 20 dias sem dormir e decidi ir embora. Se eu continuasse lá, não iria conseguir me levantar”, diz.
Aline perdeu uma amiga na catástrofe e precisou tratar a inalação de fumaça tóxica no dia do incêndio. “A mudança tem sido boa para mim”, diz ela.
O desânimo para viver na cidade também atinge parentes dos mortos, de acordo com Adherbal Ferreira, presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia.
Ele afirma que há famílias que venderam suas casas às pressas para poder ir embora de Santa Maria.
“Existe uma marca pesada na cidade. Ainda se vivenciam os reflexos desse luto”, diz Ferreira, que perdeu a filha de 22 anos no incêndio.