As forças de segurança do Egito iniciaram nesta quarta-feira a desmontar os dois acampamentos mantidos por aliados do presidente deposto Mohammed Mursi no Cairo, após 45 dias de ocupação. Há relatos de dezenas de pessoas mortas e caos na capital do país e em outras cidades.
As estimativas de vítimas da ação policial ainda oscilam. Enquanto o governo interino afirma que 14 pessoas morreram e quase cem ficaram feridas, a Irmandade Muçulmana, à qual Mursi é filiado, comenta em mais de 200 mortos.
A situação na cidade é tensa. O acampamento menor, na praça Al Nahda, ao lado da Universidade do Cairo, já foi desmontado pelas forças de segurança. Escavadeiras e outros agentes derrubam as barracas e a polícia retira os militantes que ainda restam no local.
Na ocupação ao lado da mesquita de Rabia al Adawiya, no entanto, há mais confrontos entre a polícia e os islamitas. Grandes colunas de fumaça são vistas na entrada dos acampamentos e o acesso à região do templo muçulmano está bloqueada pela polícia, tendo acesso somente carros da polícia e ambulâncias.
Boa parte dos feridos do lado islamita é atendida em clínicas criadas dentro da ocupação que, segundo a Irmandade Muçulmana, são atacadas pela polícia com coquetéis molotov. Os agentes do governo se aproximam da mesquita, onde estariam os principais líderes do movimento muçulmano.
Jornalistas de diversos meios internacionais que estão na região também ouviram intensos tiroteios, em um sinal de que o número de mortos pode aumentar. O repórter do jornal britânico ” The Independent” Alaistair Beach diz que 42 corpos estão em uma das clínicas do acampamento de Rabia al Adawiya.
ATAQUES
A tensão também é mostrada em outras cidades, em que prédios do governo foram atacados nas cidades de Uarrah, Beheira, Garbiya e Fayum. Os principais alvos foram as delegacias de polícia, de onde foram retirados diversos presos.
Na cidade de Sohag, no sul do país, manifestantes islamitas queimaram uma igreja cristã copta com coquetéis molotov, além de vários carros da polícia. As forças de segurança chegaram à região para tentar dispersar os manifestantes.
Apesar dos relatos de uso de armas de verdade, o Ministério do Interior, no entanto, afirma que usou apenas balas de borracha e gás lacrimogêneo para retirar os manifestantes. Por outro lado, diz que a polícia recebeu o ataque de “terroristas” e prendeu mais de 200 pessoas, a maioria delas carregando armas e munição.
Mais de 300 pessoas morreram na violência política que se seguiu à transição de governo no Egito, em meio a uma grave crise econômica. O desmanche das ocupações era esperado desde domingo (11), quando terminou o feriado islâmico de Eid al-Fitr, que marca o fim do mês sagrado do Ramadã.
Os islamitas mantinham os acampamentos desde 3 de julho, quando Mursi foi retirado da Presidência egípcia pelos militares. A Irmandade Muçulmana diz que foi vítima de um golpe de Estado e não aceita as medidas tomadas pelo governo interino.
Enquanto isso, Mursi está preso em uma instalação militar não identificada. Na segunda (12), um mandado de prisão contra ele foi revogado por mais 15 dias. O ex-mandatário é acusado de associação com o Hamas na fuga de uma prisão durante a revolta que derrubou o ditador Hosni Mubarak, em 2011.