PATRÍCIA CAMPOS MELLO
enviada especial à base naval da baía de Guantánamo

Advogados de presos da base militar americana de Guantánamo estão acusando guardas de usar o best-seller erótico “Cinquenta Tons de Cinza” para difamar os detentos.

James Connell, advogado de Ammar al-Baluchi, acusado de participação nos atentados de 11 de Setembro, afirmou ontem que um guarda da prisão deu um exemplar do livro ao seu cliente.

“É uma campanha de desinformação ou uma piada de mau gosto, acho que queriam deixar na cela dele para dizer que meu cliente estava lendo o livro”, disse Connell. “Mas Baluchi é um homem religioso e nem abriu o livro.”

Na semana passada, um deputado americano esteve em Guantánamo e voltou dizendo que “Cinquenta Tons de Cinza” era o livro mais popular no Camp 7, que abriga os detentos de “alta periculosidade” como Khalid Sheikh Mohammed, acusado de ser o arquiteto dos atentados de 2001.

“Em vez do Corão [livro sagrado muçulmano], o livro mais requisitado por esses detentos de alta periculosidade é ‘Cinquenta Tons de Cinza’. Eles já leram toda a série em inglês”, disse o deputado democrata Jim Moran. “Esses presos do Camp 7 não são fanáticos religiosos, são o oposto, são uns fingidos.”

Mas porta-vozes da prisão afirmam que livros “lascivos” são proibidos em Guantánamo e que “Cinquenta Tons” não faz parte da biblioteca nem pode ser enviado como correspondência legal.

Baluchi, segundo seu advogado, levou o livro erótico ontem para o tribunal onde está sendo julgado ao lado de KSM pela morte de 2.996 pessoas nos atentados de 11 de Setembro. “Ele veio da cela com o livro para me dar”, disse.

Segundo Connel, Baluchi só lê as revistas “Economist” (especializada em economia internacional) e “Wired” (especializada em tecnologia).

O advogado diz ter guardado o livro em um cofre para fazer uma denúncia ao comandante encarregado da prisão.

À Folha, o porta-voz do Pentágono em Guantánamo, Todd Breasseale, afirmou que não entende que os advogados de defesa se emprenhem por seus clientes, mas não vai comentar declarações de “fontes secundárias”

O “Alquimista”, de Paulo Coelho, e a série “Harry Potter” são alguns dos best-sellers na prisão americana.