Ao fim do G20, reunião que terminou nesta sexta-feira (6), em São Petersburgo, na Rússia, a Casa Branca divulgou um comunicado conjunto assinado por 11 países que se dizem favoráveis a uma intervenção na Síria.
O texto, porém, não fala de que natureza seria a tal intervenção. Em vez disso, a nota fala em “uma resposta internacional forte”.
A lista inclui Arábia Saudita, Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Espanha, França, Itália, Japão, Reino Unido e Turquia, além dos EUA, este último o país que defende uma ação militar temporária no país árabe.
Segundo o presidente americano, Barack Obama, a ideia é que a ação na Síria impeça o regime do presidente Bashar Assad de voltar a usar armas químicas contra a população. “Nós não fabricaríamos mortes de 400 crianças para usar de desculpa para intervir na Síria”, disse Obama. Contrário à intervenção está o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que discutiu o tema com seu homólogo americano.
A guerra na Síria não era o tema do G20, reunião com foco econômico, mas foi discutida durante um jantar entre os representantes dos 20 países, na noite de quinta-feira (5).
Leia a íntegra do comunicado
“Os líderes e representantes dos EUA, Canadá, França, Reino Unido, Itália, Espanha, Turquia, Japão, República da Coreia, Austrália e Arábia Saudita fizeram a seguinte declaração às margens do encontro do Grupo de 20 países em São Petersburgo, Rússia:
A norma internacional contra o uso de armas química é de longo prazo e universal. O uso de armas químicas em qualquer lugar diminui a segurança da população em todo lugar. Sem ser contestada, aumenta o risco de aumento no uso e proliferação destas armas.
Nós condenamos nos termos mais fortes o terrível ataque com armas químicas no subúrbio de Damasco em 21 de agosto, que tirou as vidas de tantos homens, mulheres e crianças. A evidência aponta claramente para uma responsabilidade do governo sírio pelo ataque, parte de um padrão de uso de armas químicas pelo regime.
Pedimos uma resposta internacional forte a esta grave violação das normas mundiais e a ciência de que isso enviará uma mensagem clara de que este tipo de atrocidade não pode jamais se repetir. Aqueles que cometeram estes crimes devem ser responsabilizados.
Os signatários têm apoiado consistentemente uma resolução firme do Conselho de Segurança da ONU, dada sua responsabilidade (do Conselho) de liderar a resposta internacional, mas admitem que o Conselho permanece paralisado, como tem estado por dois anos e meio. O mundo não pode esperar por intermináveis processos falidos que só fazem prorrogar o sofrimento na Síria e criar instabilidade regional. Nós apoiamos os esforços da ONU e de outros países para reforçar a proibição no uso de armas químicas.
Nos comprometemos a apoiar esforços internacionais de longo prazo, inclusive via Nações Unidas, para endereçar o crescente desafio à segurança imposto pelos estoques de armamento químico da Síria. Os signatários também apelam à missão de investigação da ONU que apresente seus resultados o quanto antes, e ao Conselho de Segurança que aja de acordo (com as conclusões).
Condenamos nos mais fortes termos toda violação de direitos humanos na Síria, dos dois lados. Mais de 100 mil pessoas foram mortas no conflito, mais de 2 milhões se tornaram refugiadas, e aproximadamente 5 milhões estão desalojadas internamente. Reconhecendo que o conflito na Síria não tem uma solução militar, reafirmamos nosso compromisso de buscar uma solução pacífica por meio da implementação plena do Comunicado de Genebra de 2012. Estamos comprometidos com uma solução política que resultará numa Síria unida, inclusiva e democrática.
Temos contribuído generosamente com os últimos apelos da ONU e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha com por ajuda humanitária e continuaremos a dar apoio destinado às crescentes necessidades humanitárias na Síria e seu impacto nos países da região. Saudamos as contribuições anunciadas pelos países participantes do G20. Pedimos a todos os envolvidos que permitam acesso seguro e sem entraves àqueles que necessitam.”
Dois anos e 100 mil mortos
A guerra na Síria já dura mais de dois anos e deixou milhares de mortos —mais de 100 mil, segundo a ONU. Começou na esteira da Primavera Árabe, onda de levantes populares que pediu mudanças no governo em países como Tunísia, Líbia e Egito.
Como em outros países, a reação do governo sírio foi reprimir com violência os protestos por democracia. Desde o início, a postura do regime do presidente vitalício Bashar Assad foi desqualificar os opositores como meros terroristas e culpá-los pelas mortes ocorridas nos confrontos.
No dia 21 de agosto, a guerra síria ganhou outra dimensão quando gás tóxico foi usado para bombardear uma área de Damasco, causando a morte de pelo menos 355 pessoas, segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras. A ONG estima ter realizado mais de 3.600 atendimentos de pessoas que inalaram gás. A oposição fala em mais de mil mortos no ataque e acusa o regime Assad pela matança; o governo sírio culpa os rebeldes pelo massacre e afirma que achou um depósito com produtos químicos usado pela oposição.
Há tempos, a comunidade internacional condena o confronto na Síria e pede seu fim. Só após o ataque com gás, o Ocidente decidiu intervir independentemente da ONU. Devido à pressão internacional, um time de inspetores da ONU foi enviado ao país para investigar o local do suposto ataque. A equipe, porém, não conseguiu chegar à região: um comboio da organização teve de recuar porque foi recebido a tiros quando se aproximava da área.
Fim da linha
Há um ano, o presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou que o uso de armas químicas na guerra da Síria seria cruzar uma “linha vermelha”. Já houve relatos de uso de armas químicas no conflito antes – em maio deste ano, o jornal francês “Le Monde” relatou o uso de armas químicas no país.
Foi só após o ataque de Damasco, porém, que os EUA passaram a afirmar que a Síria passou do limite. O secretário de Estado americano, John Kerry, diz que os EUA não têm dúvidas de que o governo sírio atacou com gás seus cidadãos e destruiu as evidências. O presidente Barack Obama pediu o aval do Congresso para uma intervenção na Síria – que não envolverá o envio de tropas dos EUA, afirma o governo.
França e Reino Unido também condenaram o ataque e prometeram apoio – militar, no caso francês – aos rebeldes que lutam contra Assad. Porém, o Parlamento britânico rejeitou o plano de atacar a Síria, e o o premiê, David Cameron, recuou da intervenção.
O país mais frontalmente contrário à intervenção é a Rússia, que acusa o Ocidente de não ter provas do envolvimento do governo sírio no ataque de Damasco. Desde antes, porém, Moscou, que interga o Conselho de Segurança da ONU, votou contra intervir na guerra síria. A Rússia sempre defendeu uma solução diplomática para o conflito. China e Irã, em menor escala, também são contra.