Márcia Folleto/Agência O Globo
Um trem da SuperVia foi incendiado na manhã desta terça (3) após parar na estação de Quintino, na zona norte da capital fluminense. Revoltados com a interrupção da viagem, passageiros teriam ateado fogo em um dos vagões da composição a fim de protestar
Nos últimos 12 meses, a Agetransp (Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários e Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro) aplicou cerca de R$ 355 mil em multas à SuperVia, concessionária responsável pela administração do sistema de trens do Rio. Nas últimas semanas, o sistema tem apresentado problemas mecânicos frequentes, causando revolta nos usuários.
Nesta terça-feira (3), passageiros atearam fogo a um vagão de um dos trens da companhia que teve problemas e ficou parado próximo a estação Quintino, na zona norte da cidade. Antes, na quinta-feira (29), passageiros depredaram trens com pedras e pedaços de pau na estação Oswaldo Cruz, também na zona norte da cidade, depois de uma pane que afetou a circulação nos ramais Japeri e Santa Cruz.
No geral, as multas têm relação com falhas no serviço como descarrilamentos e suspensão da circulação das composições. Apesar de menores em valor, se comparadas a multas aplicadas a outras concessões reguladas pela agência –no mesmo período, o Metrô Rio e as Barcas S.A foram multados, respectivamente, em R$ 1.503.977 e R$ 1.096.000–, os trens registram problemas com uma frequência muito maior. Desde setembro de 2012, a SuperVia foi multada seis vezes, contra três multas para o sistema de metrô e três para a operação das barcas.
Para o professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e engenheiro de tráfego Alexandre Rojas, independente do valor das multas, a ação da Agetransp é problemática. “A Agetransp existe? A ação dela é muito pequena, praticamente nula. Vemos a agência notificando problemas que seguem acontecendo dia após dias. Esses problemas não deveriam acontecer e, acontecendo, as multas precisavam ser imediatas”, afirma.
Rojas acredita que os atos de depredações dos vagões pelos passageiros em momentos de pane, incomuns até alguns meses atrás, são resultado da insatisfação com o sistema e a crença de que os responsáveis não serão punidos.
“Se você for prestar atenção, o vagão em que atearam fogo é da década de 1960, não tinha mais condições de estar circulando.” O professor cita os alunos que moram em regiões da cidade distantes e atendidas por trens, mas que preferem tomar vans e ônibus para ir a universidade devido a má qualidade do serviço. “Dizem que estão sendo investidos R$ 2,5 bilhões no sistema de trens, mas isso não acontece, a qualidade do serviço é muito ruim. Não que isso justifique essas ações violentas, que acabam por diminuir ainda mais a capacidade do sistema, que já é precário”, afirma.
Segundo Rojas, o sistema precisa de investimento em toda a sua dimensão, não apenas nas composições, o que inclui a modernização da sinalização, das instalações de eletricidade e do próprio acesso às estações. “Em alguns locais você sobe quatro ou cinco lances de escada para depois descer novamente. Isso é inviável para um idoso, por exemplo.”
Em nota, a SuperVia atribui os problemas recentes a ataques por pessoas que desejam “prejudicar a circulação dos trens e culpar o sistema com falhas que não estão relacionadas à operação” e repudia todo e qualquer ato que cause dano ao patrimônio e risco aos usuários. Segundo a empresa, que atende cerca de 570 mil passageiros por dia, todas as multas são analisadas e os reparos realizados. A SuperVia informa ainda que sistema tem recebido investimentos de R$ 2,4 bilhões.
Procurada pela reportagem do UOL, a Secretaria Estadual de Transportes, responsável pela Agetransp, não respondeu até a publicação do texto.