Segunda colocada nas pesquisas de intenção de voto à Presidência da República, Marina Silva, 55 anos, afirma que o governo Dilma Rousseff vive o risco de “perda de conquistas já alcançadas” na economia.

“Por exemplo, no aspecto do controle da inflação: temos o risco de retorno da inflação. Temos um problema que sinaliza uma série de dificuldades que comprometem alguns dos instrumentos mais importantes para o equilíbrio, que são o tripé meta de inflação, câmbio flutuante e superávit primário”, disse a ex-senadora pelo Acre e ex-ministra do Meio Ambiente em entrevista à “TV Folha”.

Alvo de desconfiança por parte do empresariado justamente pela dúvida sobre como conduziria a política econômica, Marina listou a manutenção desses fundamentos macroeconômicos como uma das razões que a levam a cogitar uma nova candidatura presidencial, além do que chamou de “desafio” de conjugar o desenvolvimento do país com a sustentabilidade.

Na reta final do prazo da lei eleitoral para que possa concorrer nas eleições de 2014, ela diz estar confiante de que conseguirá criar a Rede Sustentabilidade, partido que se dedicou a formar depois de deixar o PV por incompatibilidade com a direção partidária.

A ex-senadora defende os procedimentos adotados por seu grupo e afirma que a incerteza quanto ao cumprimento do prazo se deve à falta de “meios” da Justiça Eleitoral para cumprir os procedimentos necessários ao registro da sigla e de parâmetros claros para validar assinaturas de apoio, um dos requisitos exigidos.

“Aguardamos um desdobramento justo para um processo que mobilizou milhares de pessoas”, afirmou.

CANDIDATURAS INDEPENDENTES

Marina defende que o Brasil deveria fazer uma reforma política que abrisse a possibilidade de candidaturas independentes, sem vinculação a partidos. Essa seria, no seu entender, uma forma de permitir que a governabilidade não dependesse de arranjos que, segundo ela, “distribuem pedaços do Estado”.

“Uma contribuição grande para a nossa democracia, e até para o fortalecimento dos partidos, seriam essas candidaturas indepedentes”, disse a ex-senadora.

Ela afirmou que, caso eleita, buscaria uma coalizão programática, mas evitou dizer quais partidos tentaria trazer para essa aliança. Preferiu dizer que há pessoas “virtuosas” em várias siglas, e citou PT, PSDB, PMDB e PDT, entre outras.

Para a pré-candidata à Presidência, os partidos “não estão conseguindo fazer a diferença” no Brasil.

Sobre as dúvidas de parte do empresariado sobre sua capacidade de conduzir a economia caso eleita, Marina disse que nunca pregou o “meio ambiente pelo meio ambiente”. “Economia e ecologia devem ser integradas.”

“PROTESTOS ESTÃO SÓ COMEÇANDO”

Única pré-candidata que teve expressivo crescimento nas pesquisas após as manifestações que pipocaram em todo o país a partir de junho, Marina diz acreditar que esse movimento está “só começando” no Brasil.

Ela atribuiu as passeatas ao surgimento de um “novo sujeito político”, que quer ser ouvido não só para escolher seus representantes e precisa de novos mecanismos para se expressar.

Marina falou sobre a diferença de estilos entre ela e a presidente Dilma, que se enfrentariam no segundo turno se as eleições fossem hoje. Para começar, ela dispensa o uso da forma “presidenta”, adotada por Dilma: “Não precisa essa variação”.

Além disso, diz que sua origem nos movimentos sociais a obrigou a exercitar muito a arte de “ouvir” e dialogar. “Isso faz parte da trajetória de vida. Você não faz assim quando quer ganhar simpatia, você faz assim porque você é”, afirmou.