Dado Ruvic/Reuters

Dois anos depois de atrelar seu futuro ao sistema operacional Windows Phone, a finlandesa Nokia anunciou nesta terça-feira (3) a venda de sua área de telefones celulares para a gigante norte-americana Microsoft, por US$ 7,183 bilhões (cerca de R$ 17,07 bilhões).

A finlandesa se concentrará agora em serviços e redes, “o melhor caminho para avançar, tanto para a empresa como para seus acionistas”, afirmou o presidente interino da Nokia, Risto Siilasmaa, em comunicado. A Microsoft também comprará todas a patentes da Nokia e seus serviços de localização.

Para a Microsoft, a aquisição tem como objetivo “acelerar o êxito com os smartphones”, anunciou Steve Ballmer, diretor-executivo da companhia. Em meio a intensas especulações sobre a venda da Nokia nos últimos meses, já haviam sido citados outros possíveis compradores, como Huawei e Lenovo.

Em agosto de 2011, em uma transação parecida, o Google comprou a divisão da Motorola responsável pela fabricação de celulares.

Desafios 
A Nokia liderou o mercado de telefones celulares durante 14 anos, até ser superada pela Samsung em 2012. A finlandesa – adepta ao sistema operacional portátil Windows Phone – vem perdendo mercado com a popularização dos smartphones.

Em um estudo global divulgado pela consultoria Gartner recentemente, a Nokia não aparece entre os cinco maiores fabricantes de aparelhos inteligentes (a lista é composta por Samsung, Apple, LG, Lenovo e ZTE). Mas se considerados os telefones celulares de forma geral, categoria que inclui os aparelhos mais simples (feature phones), a Nokia fica em segundo lugar nas vendas, perdendo apenas para a Samsung.

A Microsoft, a maior empresa de software do planeta, também vem enfrentando dificuldades. Ela não conseguiu se adaptar ao mercado das plataformas móveis com o Windows Phone. Esse sistema operacional para portáteis respondeu por 3,3% dos smartphones vendidos no segundo trimestre, segundo o Gartner. Android tem 79% do mercado, enquanto a Apple fica com 14,9%. 

Além disso, o tablet Surface não encontrou público, e a empresa decidiu recentemente diminuir seu preço, o que representou fortes custos de desvalorização. A companhia sofre ainda com a queda das vendas dos computadores pessoais, o que afeta seu sistema operacional Windows.

Presidente da Nokia pode assumir a Microsoft
O diretor-executivo da Nokia, Stephen Elop, que dirigia a área de software para empresas da Microsoft antes de ingressar na Nokia em 2010, vai agora retornar para a companhia norte-americana como presidente de suas operações de dispositivos móveis.

Ele está sendo cotado como um possível substituto ao atual diretor-executivo da Microsoft, Steve Ballmer, que vai deixar o cargo nos próximos 12 meses.  Ele está tentando transformar a companhia em uma empresa de aparelhos e serviços, como a Apple, antes de deixar o comando.

Em três anos sob o comando de Elop, a Nokia viu sua participação de mercado encolher e o preço de sua ação recuar em meio à aposta dos investidores de que sua estratégia fracassaria. Com a venda da divisão de celulares, Elop será substituído interinamente por Risto Siilasmaa.

Em 2011, depois de escrever um memorando que afirmava que a Nokia estava ficando para trás e não tinha tecnologia para acompanhar o mercado, Elop tomou uma decisão controversa de usar o sistema operacional da Microsoft para smartphones, o Windows Phone, no lugar da própria plataforma desenvolvida pela Nokia (Symbian) ou do sistema criado pelo Google (Android), hoje líder de mercado.

Venda só será concluída em 2014 
A venda da divisão de celulares da Nokia para a Microsoft deve ser concluída no primeiro trimestre de 2014 e está sujeita à aprovação por acionistas da Nokia e autoridades.

Cerca de 32 mil funcionários da Nokia esperam ser transferidos para a Microsoft, incluindo 4.700 que trabalham na Finlândia, destacou o grupo. “Não temos planos para transferir os postos de trabalho em outras partes do mundo, como parte da fusão”, disse Steve Ballmer.

Nokia já vendeu botas de borracha 
A venda do negócio de celulares da Nokia não é a primeira reviravolta dramática da empresa em sua história de 148 anos. A companhia já vendeu de botas de borracha a televisores.

Mas o anúncio da venda foi um duro golpe para o país natal da empresa, a Finlândia, mesmo entre os investidores menos sensíveis, que viam a venda da empresa como uma chance final para salvar valor do grupo.

“Como finlandês, não posso gostar deste negócio. Ele encerra um capítulo da história da Nokia”, disse Juha Varis, gerente de portfólio da Danske Capital. “Por outro lado, talvez tenha sido a última oportunidade de vendê-lo.”