A gaúcha Odete Callegaro, 75, fez um curso de informática para aprender a domar a internet. Conseguiu. Hoje se comunica com os filhos e netos pelo Facebook e Skype. Sabe das notícias antes do marido, dois anos mais velho, que se apega ao jornal impresso e à televisão como fontes de informação. E não se aflige com qualquer comando desconhecido do computador.
Odete é um exemplo do “novo idoso” desenhado pela Pnad (Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios) 2012, divulgada na manhã desta sexta-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística): vive mais, está em uma faixa da população cada vez maior e mostra interesse crescente por ultrapassar as barreiras tecnológicas em prol de seu próprio conforto.
As pessoas com mais de 60 anos são hoje 12,6% da população, ou 24,85 milhões de indivíduos – em 2011, tratava-se de uma fatia de 12,1% e, em 2002, 9,3%. A maior parte deles é mulher (13,84 milhões) e vive em áreas urbanas (20,94 milhões).
“Este aumento no número de idosos é uma tendência que já se observa há bastante tempo. Ocorre devido aos avanços de qualidade de vida, tratamentos médicos etc”, afirma Maria Lúcia Vieira, gerente da coordenação de trabalho e rendimento do IBGE.
O grupo com mais de 50 anos ainda é o que apresenta o menor percentual de internautas. Mas eles estão aumentando significativamente. Em 2012, aqueles que não têm medo de computador já eram 20,5% de toda a faixa etária – número 2,5% maior que no ano anterior. É um passo que leva tempo. Odete, que mora em Porto Alegre, demorou um ano.
“Fiz um ano de curso. Esperar que alguém te ensine é demais. Filho e neto não têm paciência”, conta a gaúcha. “Mas depois que aprende como funciona, tudo fica mais fácil. O resto a gente vai descobrindo.”
Ela usa basicamente as ferramentas mais populares da rede. Só não se anima ainda a fazer transações financeiras. “Pagar contas eu não faço pela internet. Hoje tenho tanto medo de entrarem nos meus dados. Gente velha não quer se incomodar com essas coisas”, diz a professora aposentada, que acha graça do marido, desinteressado pela tecnologia, como a maior faixa das pessoas da sua idade (79,5%).
“Ele só pergunta com quem eu estou falando no Facebook ou no MSN e volta para o jornal. Aqui assinamos dois jornais, mas podíamos ter no tablet. Acumula muito papel.”
Sul tem mais idosos
O Sul do país é a região onde as pessoas com mais de 60 anos representam uma faixa maior da população: 14,2%. Quatro cidades do Rio Grande do Sul, segundo o IBGE, são as recordistas na proporção de idosos. Em Coqueiro Baixo, a 161 km de Porto Alegre, 20,4% dos habitantes estão nesta faixa de idade – ela é seguida pelas vizinhas Santa Teresa (19,8%), Relvado (19,6%) e Colinas (18,7%).
O IBGE prevê que em 2030 a população brasileira, hoje estimada em 196,9 milhões, começará a encolher. Segundo projeções do instituto, então o país terá uma proporção de 13,3% de idosos em relação ao total.
A projeção da população, divulgada em agosto, aponta que os idosos no Brasil deverão representar 26,7% da população (58,4 milhões de idosos para uma população de 218 milhões de pessoas), em 2060, numa proporção 3,6 vezes maior do que a atual.
“O envelhecimento da população acima dos 65 anos tem a ver com a diminuição da fecundidade. Você diminui o número de jovens e tem o aumento relativo dos idosos. Mesmo sem o avanço da expectativa de vida, os idosos aumentariam”, explica o pesquisador Gabriel Borges, um dos responsáveis pelo estudo.
Coqueiro Baixo
Em Coqueiro Baixo não há uma churrascaria –a mais próxima dali fica na cidade de Encantado, a cerca de 30 quilômetros. Por outro, no Brasil é difícil encontrar uma churrascaria sem ter em seu histórico um nativo dessa pequena localidade da Serra Gaúcha de 1.528 descendentes de italianos.
O UOL visitou Coqueiro Baixo dentro do projeto UOL pelo Brasil –série de reportagens multimídia que percorreu municípios em todos os Estados da federação durante a campanha eleitoral de 2012.
Como efeito colateral, a migração dos jovens atrás de lucros carnívoros durante quatro décadas gerou o município mais idoso do país: 29,4% são nonnas ounonnos, que são tratados a pão de ló pelos políticos locais, afinal, eles decidem qualquer eleição. Esse índice é quase três vezes o da média nacional (10,8% da população tem mais de 60 anos).