Um ciclista morre por semana no trânsito de São Paulo. Em 2012, foram 52 óbitos, 6,1% a mais do que o número registrado no ano anterior. Os dados foram obtidos pela reportagem do UOL via Lei de Acesso à Informação junto à CET (Companhia de Engenharia e Tráfego) de São Paulo.

O número de ciclistas mortos representou 4,2% dos óbitos registrados em acidentes de trânsito no ano passado (1.231). A zona leste concentra grande parte das mortes.

Dos 52 mortos, a grande maioria era do sexo masculino. Apenas uma ciclista morreu em acidente de trânsito na capital no ano passado. Em março, a bióloga Juliana Ingrid Dias, 33, trafegava pela avenida Paulista, na área central da capital, quando foi atropelada por um ônibus.

O motorista Reginaldo Francisco dos Santos foi indiciado pela polícia por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, e responde pelo crime em liberdade na Justiça. Ele chegou a ser preso após o acidente, mas pagou fiança e foi solto.
 
A idade média dos ciclistas mortos é de 35 anos, e um em cada quatro (13) era estudante. Mais da metade (30) possuía escolaridade baixa: 57,7% não chegaram a completar nem o ensino fundamental.
 
Mais de 70% das vítimas (37) morreram no dia do acidente, seja no local da colisão ou após ter sido socorrida. “Os ciclistas são tão vulneráveis quanto os pedestres”, afirma Celso Bernini, diretor do serviço de cirurgia de emergência do Hospital das Clínicas de São Paulo.
 
Quando se envolvem em um acidente de trânsito, os ciclistas não colidem com outros veículos, mas são atropelados por eles, defende o médico. “Talvez isso explique o alto percentual de mortes no dia do acidente”, opina.
Segundo Bernini, a bicicleta é um “meio de transporte perigoso”. “Não pelo meio em si, mas porque não temos estrutura para que elas circulem”, critica.
 

Carros e ônibus são os maiores vilões

Os carros e os ônibus são os principais vilões dos ciclistas. Mais de 20% (11) dos casos de mortes em 2012 ocorreram após colisões com carros e 19% (10) com ônibus.

Os percentuais sofreram uma redução significativa em comparação a 2010 e 2011. Em contrapartida, o número de ciclistas que morreram depois de colisão com caminhões dobrou. Em 2011, foram três mortes. No ano passado, a quantidade passou para sete, representando 13,4% dos óbitos de ciclistas.

Para a ciclista Silvia Ballan, 40, a culpa é do excesso de velocidade. “Os motoristas conduzem sempre em alta velocidade e, quando aparece um ciclista, eles não têm tempo de parar”, explica.
 
Silvia pedala há mais de 25 anos. Desde 2012, ela integra o projeto Bike Anjo, que ensina gratuitamente pessoas a andar de bicicleta de forma mais segura em várias cidades do país. 
 
Para a editora de vídeo, também há falta de respeito no trânsito. “O foco deles [os motoristas] não é a vida; é chegar logo porque precisam trabalhar”, critica. Ela vê a redução da velocidade média das vias da capital e instalação de radares como possíveis soluções para a diminuição do número de acidentes e mortes de ciclistas.
 

Guerra civil no trânsito

“Estamos vivendo uma guerra civil no trânsito”, declara Alexandre Delijaicov, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo). 
 
O especialista acredita que o aumento do número de mortes de ciclistas pode ser explicado pela maior quantidade de pessoas pedalando na cidade, devido a programas de incentivo ao uso da bicicleta como meio de locomoção. Outro fator é, segundo ele, o próprio design da capital.
“A cidade é desenhada para o automóvel; o urbanismo é rodoviarista. É preciso priorizar as pessoas, os passeios públicos [calçadas], os veículos urbanos não motorizados, que é o caso da bicicleta, e o transporte público coletivo”, sugere Delijaicov, que usa bicicleta há 16 anos para ir da sua casa até a universidade, percorrendo 17 quilômetros por dia.
 
Delijaicov cita também a impunidade. Ele sugere penas mais severas para motoristas como o condutor de ônibus Márcio José de Oliveira, acusado de atropelar e matar a ciclista Márcia Prado em 14 de janeiro de 2009 na avenida Paulista, área central da capital paulista.
 
Em julho deste ano, o motorista foi condenado na Justiça a três anos, seis meses e 20 dias de prisão. A pena foi substituída por prestação de serviços à comunidade. Ele também teve a habilitação suspensa durante esse período. Oliveira pode recorrer da decisão.
 

Menor número de mortes em oito anos, diz CET

O número de mortes de ciclistas registrado entre janeiro e maio deste ano em São Paulo foi o menor em oito anos, defende a CET.

Nos cinco primeiros meses de 2013, 15 ciclistas morreram em acidentes de trânsito na capital. No mesmo período do ano passado, foram 26 óbitos, uma redução de 42%. Entre 2005 e 2012, a quantidade de mortes entre janeiro e maio foi sempre superior ao anotado neste ano.

“A CET atribui essas estatísticas aos trabalhos educativos que vem desenvolvendo, bem como à intensificação da fiscalização por desrespeito ao ciclista”, informa a companhia.