Com a competência e clareza que imprime a seus textos, a jornalista Letícia Pinheiro relembrou, em matéria recente, a passagem meteórica de Garrincha por esta cidade. Apesar das poucas horas que permaneceu nesta hospitaleira comunidade, até hoje existe esportista que se recorda de um craque que se ombreou a Pelé, Bauer, Zizinho, Nilton Santos, Didi, Gerson e outros craques do futebol romântico, bem diferente do que se pratica hoje com três zagueiros, três volantes e, quando muito, dois atacantes.
Vigília recompensada
Fã de Mané e também de Canhoteiro, Djalma Santos, Djalma Dias e Maurinho que participavam dos seniores do Milionários, o responsável por este canto de página levantou bem cedo e se postou à frente do Palace Hotel, a tempo de acompanhar a chegada dos atletas. Ao pisar solo dracenense, Garrincha segurava um litro de uísque que já estava pela metade.
Via sacra
Decorridas poucas horas, Garrincha deixou seu quarto e – observado por grande número de torcedores – iniciou um périplo insólito entre o hotel e o Barzinho, estabelecimento que, por largo período, pertenceu a seu Joãozinho, pai de José Antonio Ortiz. Até que fosse chamado para o almoço, Mané repetiu o trajeto diversas vezes. E, cada vez que encostava no balcão do bar da Presidente Vargas, tomava uma cachaça.
Sem segredos
O cerco ao gênio da bola, de parte do colunista, prosseguiu no estádio Írio Spinardi, local do amistoso histórico. A pedido do amigo Belmar Ramos (Bananeira), entrevistei Garrincha para a rádio Difusora de Tupi Paulista. Com a simplicidade que o caracterizava, Mané contou coisas incríveis sobre a conquista do mundial da Suécia. Pena que o técnico de som daquela emissora, pouco depois de a entrevista ir ao ar, fez o favor de apagá-la e gravar músicas sertanejas por cima.
Fato real
Na entrevista, confirmou que, ao receber o abraço do rei da Suécia pelo feito, perguntou a um companheiro: – Ué, já acabou? Não vai ter segundo turno? E acrescentou: – O campeonato carioca sempre teve turno e returno! Também confirmou que ao entrar em campo contra a Inglaterra, falou: – Esse time tem camisa igual a do São Cristóvão (time pequeno do Rio de Janeiro). Com os joelhos baleados e totalmente fora de forma, Garrincha só entrou no gramado nos derradeiros minutos do amistoso.
Pista de pouso
Participante do jogo festivo, o lendário lateral Djalma Santos (ex-seleção, Portuguesa e Palmeiras) surpreendeu-se com as dimensões do velho Írio Spinardi. Tanto que exclamou aos que se encontravam por perto: Isto não é campo de futebol, é um verdadeiro aeroporto”.
Sem maquiagem
Os mais novos que só conhecem Garrincha por fotos e velhos filmes sobre sua irreverência e dribles desconcertantes, podem saber mais sobre sua vida e carreira no livro Estrela Solitária, escrito por Ruy Castro. Uma obra que retrata as venturas e muitas desventuras do Anjo de pernas tortas.
Boa notícia
O consagrado escritor Carlos Heitor Cony, colunista da Folha de S. Paulo, recebeu alta médica, após dez dias de internação no hospital Pró-Cardíaco, no Rio. O autor de Quase memórias foi um dos baluartes da imprensa livre, durante os 25 anos da ditadura militar.

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