A depredação de agências bancárias, estabelecimentos comerciais e prédios públicos durante manifestações no Rio de Janeiro fez proliferar na cidade o uso dos tapumes.
Geralmente limitados a cercar canteiros de obras, as placas de proteção se multiplicaram a cada protesto nas fachadas de imóveis, principalmente no centro da cidade, e assumiram a função até de escudo de manifestantes conhecidos como black blocs.
À frente de vidraças e vitrines, com cores e tamanhos diversos, tornaram-se também alvos. E a procura cada vez mais intensa e necessária pelos anteparos tem causado a escassez do material, segundo empresas de manutenção ouvidas pelo UOL.
De acordo com Abdon Coelho, um dos donos da Goulart Coelho, empresa que presta serviços de construção e reforma, os pedidos de instalação de tapumes aumentaram nos últimos quatro meses. O crescimento, segundo ele, é sentido principalmente nos dias seguintes a protestos mais violentos.
“Tem hora que pedem tanto que falta material para instalar. Às vezes, a gente liga para a madeireira, e eles não têm o compensado de madeira para pronta entrega”, afirma Coelho.
Segundo ele, cada placa de 10 mm de espessura é vendida hoje por R$ 30. Já as mais resistentes, de 16 mm, saem por R$ 50. Ele conta que os materiais eram cerca de 20% mais baratos (entre R$ 25 e R$ 40, respectivamente) antes da onda de manifestações que se espalhou pela cidade.
“Os preços subiram, mas o maior problema é a escassez”, diz o empresário.
O motivo da carência da matéria-prima é facilmente percebido nas ruas da capital fluminense. Nesta quinta-feira (24), por exemplo, apenas na avenida Rio Branco, no centro, um dos principais palcos de protestos desde junho, havia 36 estabelecimentos protegidos por tapumes. E isso mais de uma semana depois doúltimo ato em que houve depredações, no Dia do Professor.
Caminhando pela avenida, não é tarefa difícil identificar a clientela mais “fiel” dos tapumes: dos 36 imóveis com tapumes, 29 são agências bancárias. Integram a lista de prédios “protegidos” entidades como Clube Militar, ANP (Agência Nacional do Petróleo), Tribunal de Justiça Federal e Biblioteca Nacional, por exemplo.
Ao comentar sobre a proliferação dos madeirites nas fachadas da cidade, o taxista Alzemiro Ribeiro, 59, disse estar espantado com a quantidade de prédios cobertos pelas placas . “Tanto tapume assim, só vejo no Carnaval e olhe lá. Mas nessa época não é nem para não quebrarem, e sim para não fazerem xixi e a urina não entrar nos prédios.”
Precaução
Empresas afetadas pela ação de vândalos e dos black blocs contabilizam prejuízos, enquanto outras veem aumento da demanda. A gerente administrativa da empresa de manutenção Parc-Rio, Débora Tavares, conta que a procura por tapumes subiu praticamente 100%. “O nosso faturamento aumentou bastante com essas manifestações”, relata ela, sem querer revelar valores.
Ela diz ainda que, mesmo estabelecimentos que não foram alvo de depredações, também fazem uso das placas. “Alguns clientes contratam nossos serviços por precaução”, diz Débora.
Além de instalar tapumes, a empresa também substitui vidraças. O efeito da onda de destruição resultante de algumas manifestações, segundo ela, é que as vidraçarias estão demorando mais para entregar os produtos.
“Um tipo de vidro simples, por exemplo, demorava de quatro a cinco dias para ser entregue. E agora é no mínimo dez, podendo chegar a 15. Estão pedindo mais tempo”, conta.
Reaproveitar é difícil
De acordo com quem trabalha com a instalação de tapumes, normalmente, quando não há danos diretos, as empresas conseguem reutilizar as placas até três vezes. Por conta do comportamento dos vândalos, a prática não é mais possível.
“Agora eles quebram inclusive o tapume. Antes conseguíamos reaproveitar muito mais material”, reclama Coelho.
A fragilidade das placas tem feito alguns estabelecimentos pedirem tapumes metálicos. “Ele dura mais e é mais resistente, mas aí os caras arrancam e usam como escudo. Por esse lado é ruim, porque isso acaba armando os black blocs”, opina o empresário.