Na ressaca do boom imobiliário do passado, o número de reclamações por atrasos em obras cresceu 15% entre janeiro e setembro de 2013 na região metropolitana de São Paulo, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Os dados são da Amspa (Associação dos Mutuários de São Paulo e Adjacências). Foram 1.279 reclamações, contra 1.113 do ano anterior. Segundo Ana Carolina Bernardes, diretora jurídica da Amspa, o número de pessoas que reclamam ainda é pequeno. Para comparação, o Secovi aponta que 22.638 unidades foram lançadas de janeiro a agosto de 2013.
André e Cibele Campanaro foram afetados: devido a um atraso de quase dois anos, moram na casa dos sogros, carregando consigo o filho de seis meses. Se revezam na casa dos pais de um e de outro.
O empreendimento, da construtora CR2, era para ter ficado pronto em janeiro de 2012. Até agora, nada. O pai só vê o bebê quando os dois estão na casa dos avós paternos. “O pior foi isso”, diz Cibele. A situação chegou a gerar conflitos na família, e o casal cogitou até mesmo “ir cada um para o seu canto. O desgaste foi tanto que os dois cogitam vender o apartamento assim que receberem as chaves.”Desgastou demais, ficamos desgostosos”, afirma ela.
Segundo Marcelo Tapai, advogado especializado em direito imobiliário, as empresas lançam mais do que conseguem arcar com sua capacidade financeira. “Ela consegue vender 15, mas a capacidade de endividamento é de 10, então ela redistribui o dinheiro”, afirma ele.
Já Ricardo Yazbek, vice-presidente do Secovi, afirma que os atrasos refletem o inchaço do mercado imobiliário, mas que o problema já ficou para trás.
Zé Carlos Barretta/Folhapress | ||
Cibele Campanaro,que está morando com o marido e o filho de 6 meses, na casa da mãe e da sogra |
A empresa afirma que as obras do empreendimento Top Life View foram concluídas recentemente, tendo sido inclusive iniciado o procedimento de vistoria das unidades e o processo para obtenção do Habite-se, para posterior instalação do condomínio e entrega das chaves.
OUTROS ATRASOS
Obras de outras empresas também se encontram em atraso. É o caso do empreendimento Bosques da Vila, da Tecnisa, que está com um ano de atraso. O prazo de tolerância expirava em outubro de 2012. A última data anunciada é para o próximo dia 31. Segundo a incorporadora, o atraso ocorreu devido ao prazo de licenciamento das redes de água, luz e esgoto, necessários para obtenção do Habite-se — documento de regularização do empreendimento. A empresa também afirmou que os clientes receberão multa de 0,5% por mês de atraso, calculado sobre o valor pago.
A PDG é outra que está com problemas. Em balanço no final de 2012, eles afirmam que tinham a intenção inicial de obtenção do Habite-se 38 mil unidades, mas que esse número passou por revisão. A entrega ficou em 28 a 30 mil e as demais unidades foram realocadas para 2013. Tapai afirma que tem processos de clientes que compraram unidades em ao menos quatro empreendimentos diferentes da empresa, e estão com o mesmo problema. A empresa afirma que “trabalha para realizar as entregas no menor prazo possível” e que “mantém os clientes informados do andamento dos empreendimentos”.
A construtora Mudar também possui ao menos três empreendimentos em atraso. Um deles, o Residencial Vista Verde, com 40% de avanço físico, teve as obras paralisadas devido, segundo a empresa, dificuldade de obter financiamento bancário. Já o Residencial Ônix foi invadido, que causou 40% de retrocesso na obra. O outro, Residencial Ágata, já tem 99% das obras concluídas, segundo a empresa.