Neste ano pré-eleitoral, a presidente Dilma Rousseff ampliou o ritmo de viagens nacionais, com agendas repetidas e entrega de moradias sem água e energia elétrica.

De janeiro a esta terça (15), quando visitou duas cidades baianas, a pré-candidata à reeleição passou 51 dias em deslocamentos pelo país, marca 13% acima do mesmo período de 2011 e 34% ante 2012.

Sem obras de impacto para entregar, já que vitrines como ferrovias e transposição do rio São Francisco seguem longe das metas iniciais, ela tem focado as cerimônias de viagens em ações de alcance local. Participou este ano de 11 eventos para entregar retroescavadeiras e outras máquinas a prefeitos.

Desde julho, também nas visitas aos Estados, intensificou as agendas relacionadas à formatura de alunos do Pronatec, programa de ensino profissionalizante do governo que é vendido como “porta de saída” do Bolsa Família, por oferecer cursos aos beneficiários do programa.

Já foram seis eventos desse tipo em 2013, como em Ceará-Mirim (RN), neste mês. As inaugurações de unidades habitacionais de programas federais também ocupam posição privilegiada e já contaram com a presença de Dilma sete vezes neste ano.

Foi assim na terça, em Vitória da Conquista (BA), quando participou de evento para entrega de 1.740 unidades do Minha Casa Minha Vida. Parte delas, porém, mesmo já com os novos moradores, segue sem luz e água encanada.

Beneficiários passam as noites a luz de velas, usam baldes com água trazida de outros locais e contam com ajuda de vizinhos que já têm água ou energia em casa. A depiladora Laura dos Santos Ribeiro, 66, mora desde sábado passado em uma casa sem água e luz. “Está sendo difícil. Acho um descaso”.

Sem energia, a bateria do celular vive descarregada. “Não estou trabalhando, só correndo atrás dos carros da Coelba [companhia de energia da Bahia]”, disse.

O mesmo problema enfrenta a telefonista Verônica Santana Sousa, 31. “Não pude nem comprar comida, porque não tem como conservar.” Já a doméstica Selma Ramos, 48, disse que está esperando a instalação da energia para se mudar à nova casa. “Fiz o pedido na quinta-feira e até agora nada”, disse.

A dona de casa Creuzeci da Silva, 65, disse que solicitou a instalação da luz na segunda-feira da semana passada. “Não posso vir no escuro. Botei lâmpada e tudo, estou só esperando chegar a energia.” A casa dela também ainda não tem água nas torneiras.

Segundo o governo baiano, das 1.740 unidades entregues, só 378 tinham energia até a tarde desta terça. Até as moradias do bloco usado por Dilma para simbolizar a entrega das casas estavam sem luz.

OUTRO LADO

O Ministério das Cidades afirmou, por nota, que as casas inauguradas nesta terça “possuem instalação adequada, de acordo com as especificações mínimas” do Minha Casa, Minha Vida.

A pasta afirmou ainda que os moradores devem solicitar a liberação dos serviços às empresas de distribuição de água e energia no Estado.

O superintendente da Coelba (Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia), José Eduardo Tanure, disse que a demora é “natural” e que a ligação da luz está dentro do prazo de cinco dias úteis após a solicitação dos moradores.

A Empresa Baiana de Águas e Saneamento afirmou que foram executadas ligações de água em 1.000 unidades. Nas 740 restantes, foram feitas cem ligações após solicitação. A companhia não respondeu por que somente parte das residências tem abastecimento.

Em nota, a Caixa Econômica Federal, responsável pelos contratos das obras do programa, disse que todos os empreendimentos do MCMV são entregues com instalações de luz elétrica e água e que a ligação dos serviços é efetuada após recebimento das chaves pelos moradores, quando eles “devem solicitar a ligação individualizada junto às concessionárias.”

Colaborou MÁRIO BITTENCOURT, em Vitória da Conquista (BA)

 Editoria de Arte/Folhapress