Ela, uma estudante de moda de 19 anos, traços angelicais, olhos verdes, feminista, fã de poesia. Ele, um pintor e artista plástico de 24 anos, fã de grafite e skate e que se autodefine como “Humberto Baderna” no Facebook.
O casal de namorados nascido em Mogi-Guaçu (a 164 km de SP) estava entre os cinco que continuavam presos após São Paulo ter registrado anteontem um dos mais violentos protestos desde junho, quando jovens mascarados depredaram bancos e lojas.
Casal preso em protesto em SP é indiciado na Lei de Segurança Nacional
Luana Bernardo Lopes e Humberto Caporalli foram indiciados com base na Lei de Segurança Nacional, algo raro depois do fim do regime militar. O texto prevê pena de três a dez anos a quem “praticar sabotagem contra instalações militares, meios de comunicações, estaleiros, portos, aeroportos”, entre outros. O crime é inafiançável.
O casal, segundo a polícia, carregava quatro latas de spray, uma bomba de gás lacrimogêneo “aparentemente utilizada” e uma cartilha de como se portar em protestos.
O relato de três policiais no boletim de ocorrência diz que eles picharam prédios, incitaram a violência e ajudaram um grupo a virar um carro da polícia de ponta-cabeça. O delegado usou no inquérito imagens de uma câmera fotográfica apreendida com eles.
Editoria de arte/Folhapress | ||
O advogado do casal nega –diz que eles estavam no ato, mas sem participar de vandalismo. E que a bomba apreendida na mochila do rapaz era só um pedaço do objeto, guardado como recordação.
Com 1,60 metro, Luana está no segundo ano do curso de moda da Faculdade Santa Marcelina. Vivia em Mogi-Guaçu antes de se mudar para uma república na capital.
É descrita por uma amiga como delicada, romântica, que gosta de escrever poesia e de fotografia. Mas ela teve um ano difícil. Anteontem, dia em que foi presa, fazia dez meses que sua mãe, a enfermeira Eli Bernardo Lopes, morreu de câncer –após ter ajudado a criar, com uma amiga, uma casa para pessoas com a doença na cidade de Mogi-Guaçu.
A estudante exibe na internet uma ficha na qual seu pai, o técnico florestal Marcos Aurélio Lopes, é tratado como seu “herói”. Ele e a mãe dela se divorciaram em 2010.
O perfil de Luana na rede social revela uma garota de gostos diversos. O livro “O Pequeno Príncipe” é citado como um dos seus preferidos.
Assim como bandas punk e uma música do baiano Gilberto Gil, “Realce”, “pra acordar dançando pela casa”.
Ontem à noite, o pai dela tentava tirá-la da cadeia. “No meio de um monte de homem virando carro, prenderam uma menina de um metro e meio”, disse Marcos Lopes.
O namorado, “Humberto Baderna”, ensino fundamental completo, usa o apelido em referência à anarquista italiana Marietta Baderna (1828-1870), exilada no Brasil alegando perseguição política.
A página de Humberto na rede social é repleta de imagens contra a ação da polícia, o nazismo e o que chama de “manipulação da mídia”. Com penteado punk, diz gostar de cinema, natureza e álcool.
Um dos defensores do casal, Geraldo Santamaria Neto, do grupo Advogados Ativistas, disse que vai pedir a liberdade provisória deles.
“Eles se refugiaram em um bar e foram abordados pela polícia quando seguiam para o metrô, a caminho de casa.”
A defesa diz que eles só fotografavam a manifestação e que não participaram de nenhum tipo de violência.