O principal acervo paleontológico do estado de São Paulo –uma coleção do IG (Instituto Geológico) com mais de 3.000 peças, de répteis pré-históricos a plantas ancestrais– está sendo “despejado”, sem ter para onde ir.

Como o material é sensível e de difícil conservação, responsáveis por ele temem que os quatro meses de prazo para desocupar o imóvel sejam insuficientes para encontrar um novo abrigo adequado.

“As peças são muito sensíveis. Não é só embrulhar e colocar em caixotes. É necessário ter condições certas de temperatura, manejo e armazenamento”, diz a curadora da coleção, Maria da Saudade Maranhão. “Não dá para deixar tudo amontoado.”

O Acervo Paleontológico Dr. Sérgio Mezzalira –que leva o nome de seu criador, pioneiro da paleontologia nacional– está incorporado ao IG e subordinado à Secretaria de Meio Ambiente do Estado.

O instituto e sua coleção de fósseis, porém, estão abrigados em uma área cedida pela Secretaria de Agricultura no Parque da Água Funda.

Com a ampliação do centro de exposições Imigrantes, que prevê a construção de hotel e lojas, órgãos que funcionam no local precisam desocupá-lo. O espaço ficará nas mãos da GL Events, que venceu a concorrência da obra de R$ 201,5 milhões. O termo de transferência já foi assinado, e agora o local precisa ser desocupado até janeiro.

Desde sua concepção, há dois anos, a ampliação do centro de exposições atrai controvérsia, por estar perto de uma área de preservação. O anúncio da remoção de vários escritórios também mobilizou funcionários insatisfeitos e pesquisadores preocupados com as condições que passariam ter depois.

O espaço que o acervo ocupa agora passou por reformas bancadas pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Além de sala refrigerada e compartimentos sob medida, há um sistema de ventilação para filtrar substâncias tóxicas e um esquema especial de descarte de resíduos.

Entre as peças do acervo, há dezenas de “holótipos”, fósseis de referência para descrever espécies. As peças foram coletadas durante cem anos de pesquisa no Brasil.

Espaços alternativos oferecidos pelo Estado foram consideradas inadequadas por especialistas. Uma das opções, uma garagem perto da marginal Tietê, era repleta de goteiras e infiltrações. “Não queremos saber se vai ter luxo”, diz Maranhão. “Só estamos brigando pelas condições mínimas de trabalho”.

OUTRO LADO

A Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que está trabalhando para encontrar um local que atenda a todas as especificações para abrigar adequadamente o acervo paleontológico e também o Instituto Geológico.

Enquanto o destino da coleção de fósseis permanece incerto, já ficou decidido que o instituto será transferido para um prédio do governo na rua Joaquim Távora, na Vila Mariana.

O local, no entanto. ainda precisa passar por muitas reformas antes de poder receber os pesquisadores.

Quanto ao prazo apertado –as instalações precisam ser esvaziadas até janeiro– e a um possível adiamento da mudança até que haja condições consideradas adequadas, a secretaria informou que o instituto está trabalhando “arduamente para atender o prazo indicado”.

O órgão não informou valores para investir nas obras de reforma do novo prédio (uma das maiores preocupações dos cientistas), mas disse que “já foram projetados custos associados às reformas e à mudança na negociação do orçamento 2014”.