O acordo entre Irã e o grupo de seis países conhecido como G5+1 que prevê a redução do programa nuclear iraniano em troca de alívio nas sanções econômicas só foi assinado após meses de encontros secretos entre funcionários do regime de Teerã e do governo americano.
As reuniões e conversas secretas ocorriam paralelamente às negociações oficiais que também incluíam França, Reino Unido, Alemanha, Rússia e China. O governo americano pediu aos jornalistas que não publicassem detalhes da negociação secreta até que o acordo fosse firmado em Genebra, na Suíça.
No domingo (24), finalmente a agência Associated Press e o site Al-Monitor revelaram a história. Os Estados Unidos mantiveram segredo sobre os encontros com membros do governo do Irã até de aliados, incluindo Israel. Isso, em parte, pode explicar o clima de tensão com os israelenses e também com a França que, no começo do mês, rejeitou um acordo proposto.
O presidente Obama autorizou pessoalmente os encontros secretos que ocorreram em Omã. Desde março, o vice-secretário de Estado americano, William Burns, e o conselheiro de política externa da vice-presidência, Jake Sullivan, se reuniram ao menos cinco vezes com iranianos. As últimas quatro reuniões secretas aconteceram após a posse do presidente iraniano Hassan Rowhani em agosto.
O acordo firmado no domingo prevê “alívios limitados, temporários, localizados e reversíveis, enquanto mantém o vasto volume de sanções” ao Irã. Foram retiradas sanções nos setores de ouro, metais preciosos, automóveis e de petroquímicos do Irã, o que geraria receita de US$ 1,5 bilhão (R$3,42 bilhões).
A comunidade internacional também fica vetada de propor novas sanções relacionadas ao programa nuclear iraniano. Caso o país não cumpra com o acordo no período de seis meses, está sujeito a penalidades adicionais, diz a Casa Branca.
O Irã, por sua vez, se comprometeu a desacelerar seu programa nuclear. Em seis meses, o país terá se desfeito de todas suas reservas de urânio enriquecido a 20%, segundo o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry. “Isto significa que os 200 quilos de urânio enriquecido a 20% [que a república islâmica possui atualmente] chegarão a zero em seis meses”, explicou em entrevista coletiva.
Além disso, anunciou que serão iniciados mecanismos de controle “sem precedentes” do programa nuclear iraniano, com “acessos diários” de mecanismos de verificação a todas as instalações nucleares. “Isto garantirá que o programa será submetido a mecanismos de vigilância que a comunidade internacional jamais teve antes”, comentou.
Outro dos compromissos destacados por Kerry foi que o reator nuclear de Arak, onde poderia ser produzido plutônio, não será posto em funcionamento durante o período de vigência do acordo.
Israel
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, considerou o acordo com o Irã “um erro histórico”.
“O que se estipulou em Genebra não é um acordo histórico, mas um erro histórico (…). Hoje o mundo se transformou em um lugar muito mais perigoso”, disse Netanyahu ao começar a reunião semanal com seu Conselho de Ministros.
Em seu habitual discurso público, antes dos debates a portas fechadas, considerou que os resultados do acordo significam que “o regime mais perigoso do mundo deu um passo significativo para conseguir a arma mais perigosa do mundo”.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tentou tranquilizar Netanyahu no domingo, e disse que deseja iniciar imediatamente consultas com Israel sobre o assunto.
Obama falou com Netanyahu por telefone antes de deixar a Casa Branca para participar de um evento de arrecadação do Partido Democrata na costa oeste.
O porta-voz da Casa Branca Josh Earnest disse a repórteres a bordo do avião presidencial Air Force One que os dois líderes reafirmam o compromisso de impedir que o Irã consiga uma arma nuclear.
“Coerente com o nosso compromisso de consultar atentamente nossos amigos israelenses, o presidente disse ao primeiro-ministro que ele quer que os Estados Unidos e Israel iniciem consultas imediatamente em relação ao nosso esforço para negociar uma solução abrangente”, disse Earnest. (Com agências internacionais)