Duas testemunhas que resolveram colaborar com as investigações sobre fraudes em licitações no setor de transportes em São Paulo disseram que empresas como a multinacional francesa Alstom e a alemã Siemens pagaram propina de até 9% do valor dos contratos para fazer negócios com o governo estadual.
As duas testemunhas trabalharam para empresas acusadas de participação nas fraudes e têm suas identidades mantidas sob sigilo pelas autoridades, mas o conteúdo dos depoimentos foi revelado nesta semana pelo juiz federal Marcelo Costenaro Cavali.
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Na quinta-feira, o juiz mandou sequestrar R$ 57 milhões em dinheiro e investimentos de ex-diretores da estatal paulista de trens CPTM e consultores que estão sob investigação no Brasil e na Suíça.
Os dois depoimentos são a principal evidência obtida até agora pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal de que houve corrupção nas licitações, que foram realizadas entre 1998 e 2008, período em que São Paulo foi governado por sucessivas administrações do PSDB.
Segundo uma das testemunhas, as empresas contratadas para fornecer os trens da Linha Lilás do Metrô de São Paulo pagaram 9% do valor do contrato em comissões para os consultores Arthur Gomes Teixeira e Sérgio Meira Teixeira, morto em 2011.
Conforme a decisão do juiz Cavali, a testemunha disse ter confirmado com um colega de outra empresa do ramo e um assessor da presidência da CPTM a informação de que o dinheiro seria destinado ao pagamento de propina.
O fornecimento de trens para a Linha Lilás foi contratado no fim do mandato do governador Mário Covas, morto em 2001. Alstom, Siemens, a espanhola CAF e a alemã DaimlerChrysler dividiram o contrato de R$ 1,2 bilhão, em valores corrigidos.
Se o que a testemunha ouvida pelas autoridades afirmou for verdade, o contrato pode ter rendido quase R$ 108 milhões em propina.
No projeto Boa Viagem, em que a CPTM contratou serviços de modernização dos trens de várias de suas linhas em 2005, a comissão cobrada por Teixeira teria sido reduzida a 8%, dos quais 6% seriam repassados como propina a funcionários públicos.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) estava em seu primeiro mandato quando esse projeto foi desenvolvido. Alstom, Siemens e outras empresas conseguiram contratos de R$ 376 milhões.
Há duas investigações em curso sobre os negócios dessas empresas com o governo estadual. Uma teve início na Suíça, que descobriu repasses feitos por Teixeira para o ex-diretor da CPTM João Roberto Zaniboni no exterior.
A outra começou neste ano, depois que a Siemens denunciou a prática de cartel nas licitações de trens e passou a colaborar com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência), órgão do Ministério da Justiça.
As empresas negam ter pago propina e dizem ter contratado Teixeira para serviços de consultoria. Zaniboni diz ter recebido o dinheiro de Teixeira por serviços que teria prestado antes de virar diretor da CPTM.
Editoria de Arte/Folhapress | ||