As latinhas de alumínio que Paulo Henrique, 9, tirava de dentro de um canal cheio de lixo no Recife viravam dinheiro para comprar biscoito e salgadinho.
O menino fotografado submerso em lixo e água suja, apenas com a cabeça para fora, diz que não vai mais catar latas, como fazia desde os cinco anos de idade.
Mas o canal do Arruda, no pobre bairro homônimo da zona norte do Recife, continua sendo o único local de lazer das crianças da região.
Nesta semana, a rotina do garoto se tornou conhecida depois que o “Jornal do Commercio” publicou sua história, com foto na capa.
Nas margens do canal, os garotos empinam pipa. Na manhã de ontem, o menino mirrado, tímido e monossilábico voava de um lado para o outro sobre o canal, num balanço improvisado.
Um de seus amigos brincava com os pés enfiados na lama suja. “Canal aqui é piscina”, afirmou uma passante.
A visita de repórteres virou rotina por ali. Ao meio-dia, os garotos correram para um dos barracos da favela para se verem nos telejornais.
Daniel Carvalho/Folhapress | ||
Paulo Henrique, um dos meninos que nadam no canal do Arruda, no Recife, em busca de lixo para vender |
‘QUERO SER POLÍCIA’
Na escola municipal onde Paulinho estuda, no entanto, ninguém fez comentários. Ele disse ter entregado um exemplar do jornal a uma professora, que não deu atenção.
Quando questionado se gostava de ir à escola, o aluno da segunda série silenciou. Ele é torcedor do Sport, mas não sonha em ser jogador de futebol. “Aqui é ruim porque não tem campo por perto, não tem pracinha.”
Acostumado à violência da favela, área de tráfico de drogas, só tem um plano: “Quero ser polícia para pegar bandido”, afirma.
Ele não faz ideia de quem seja o prefeito do Recife, o governador de Pernambuco nem a presidente do Brasil, mas sabe o que pediria a eles. “Ia pedir uma casa. Aqui [no barraco] é um pouco apertado.”
Paulo Henrique vive com a mãe, faxineira, um “paquera” dela e cinco irmãos. Todos dormem no mesmo ambiente, em uma cama de casal e dois colchões de solteiro. O espaço abriga duas televisões, uma geladeira, um fogão e um armário.
Ontem, a Prefeitura do Recife enviou assistente social e psicóloga ao local. As mães das crianças foram orientadas a procurar o conselho tutelar e a prefeitura, para renovarem o cadastro do Bolsa Família –que não recebem desde 2008.
A prefeitura informou que faz a dragagem e a capinação das margens do canal desde o início do ano. O projeto de urbanização da área aguarda recursos federais.
Segundo a prefeitura, um conjunto habitacional receberá parte das famílias da área e as demais devem ser contempladas com unidades do Minha Casa, Minha Vida.