O campo de Vesúvio, o primeiro a ser descoberto pela OGX, é um exemplo emblemático da diferença entre o que a petroleira de Eike Batista informava aos investidores e o que acontecia internamente. A empresa chegou a estimar que Vesúvio produziria até 1,5 bilhão de barris, mas nunca tirou uma gota de petróleo de lá.
A Folha revelou no domingo que a OGX já tinha estudos internos feitos a pedido da diretoria, em julho de 2012, de que suas reservas na Bacia de Campos poderiam ser apenas 17,5% do que fora divulgado ao mercado. Em vez dos pelo menos 1,8 bilhão de barris de petróleo previstos, só poderia tirar de forma economicamente viável 315 milhões de barris.
Os estudos dos técnicos da OGX referem-se aos campos de Tubarão Azul, Tubarão Martelo, Tubarão Areia, Tubarão Tigre e Tubarão Gato. O campo de Vesúvio nem entrou na conta, porque já havia sido abandonado pela empresa, mas o mercado não sabia disso naquela época.
Conforme pesquisa feita pela Folha em todos os fatos relevantes da companhia, a OGX divulgou, em 14 de outubro de 2009, que havia finalizado a perfuração de seu primeiro poço no bloco BM-C-43 (Campo de Vesúvio). No comunicado, estimou um volume de óleo recuperável (que pode ser extraído com lucro) entre 500 milhões e 1,5 bilhão de barris.
“Este excelente resultado revela o grande potencial petrolífero dos nossos blocos, além de contribuir para a redução dos riscos dos próximos prospectos a serem perfurados na região”, disse o geólogo Paulo Mendonça, que ocupava o cargo de diretor geral da companhia.
A notícia provocou alvoroço na OGX, que logo em seguida encomendou sua primeira plataforma, OSX-1, que estava em oferta no mercado. A unidade nunca foi utilizada no campo de Vesúvio, batizado em referência ao vulcão italiano que soterrou a cidade de Pompeia na antiguidade. A OSX-1 só pode ser aproveitada no campo de Tubarão Azul.
Segundo ex-técnicos da OGX que conversaram com a reportagem, o petróleo de Vesúvio se revelou muito pesado e inaproveitável nos primeiros testes de produção feitos no final de 2010. “Só foi possível recuperar borra, tamanho o peso do óleo”, disse uma fonte que pediu anonimato.
O mercado só foi informado, parcialmente, de que havia algum problema com Vesúvio em 13 de março deste ano, pouco antes de a empresa abandonar vários campos e chegar à fase mais aguda de sua crise, que culminou na recuperação judicial solicitada na semana passada.
No mesmo fato relevante em que declarava a comercialidade dos campos Tubarões Tigre, Gato e Areia, a empresa solicitou à ANP (Agência Nacional de Petróleo) autorização para um Plano de Avaliação (PAD) de algumas áreas, entre elas Vesúvio.
A empresa se comprometia a fazer um poço de extensão e um reprocessamento sísmico, com prazo até o segundo semestre de 2013, mas não dava detalhes sobre o desempenho da área.
Procurada hoje pela Folha para falar sobre o campo de Vesúvio, a OGX não respondeu imediatamente. Na semana passada, a empresa já havia sido informada das diversas dúvidas da reportagem sobre as divergências entre estimativas internas e o comunicado ao mercado, incluindo o campo de Vesúvio.
A OGX enviou na sexta-feira um posicionamento geral sobre o assunto. Segundo a companhia, “o mercado sempre foi mantido informado, com informações atualizadas sobre os projetos de produção tão logo as análises foram concluídas, evitando a divulgação de informações incompletas”.