Em 8 de agosto, Ronald Biggs festejou seus 84 anos com uma festa em um pub de Londres. Ele brincou com notas de dez xelins, réplicas das que foram roubadas durante o assalto ao trem pagador, em 1963. Antes, ele havia visto o enterro das cinzas do líder da quadrilha, Bruce Reynolds, que morreu em março aos 81 anos.
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Veja o relato de Bernardo Mello Franco, que esteve na festa:
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Ronald Biggs descansava em sua festa de aniversário num pub londrino, ontem à tarde, quando um amigo sacou um maço de notas de dez xelins. Eram réplicas do dinheiro que sua gangue roubou no famoso assalto ao trem pagador, em 1963.
O veterano larápio não hesitou: estendeu a mão direita, fingiu surrupiar uma das cédulas e riu, para delírio dos cerca de 30 presentes.
Bernardo Mello Franco/Folhapress | ||
Integrante do bando que executou o célebre assalto ao trem pagador, Ronald Biggs comemora 84 anos |
Apesar da saúde frágil, o integrante mais conhecido do “crime do século” celebrou os 84 anos ao estilo irreverente dos velhos tempos. A festa coincidiu com os 50 anos do assalto lendário.
O dia de Biggs começou no cemitério de Highgate, onde ele participou do enterro das cinzas do líder da quadrilha, Bruce Reynolds, que morreu em fevereiro deste ano, aos 81 anos.
De chapéu preto de gângster, óculos escuros e suspensório estampado com várias caveiras, ele chegou ao local numa cadeira de rodas empurrada por seu filho Mike, ex-cantor do grupo infantil brasileiro Balão Mágico e hoje empresário.
O clima de luto foi quebrado quando a responsável pela cerimônia fúnebre leu um trecho do best-seller de Reynolds, “A Autobiografia de um Ladrão”, lançado em 1995 e inédito em português.
“Olhei para o meu relógio Omega de aço inoxidável. 2h45min. Apenas 15 minutos para o destino”, recitou.
Biggs, que sobreviveu a sete derrames, ficou visivelmente emocionado com a leitura. “Ele era o meu melhor amigo. Era meu irmão”, disse, na saída da cerimônia.
Sem conseguir falar, ele se comunica por meio de uma cartela de letras.
Quando a Folha perguntou a ele se sentia falta do Brasil, Biggs respondeu com um sinal de positivo. “Do quê?”, perguntou o repórter da TV Globo. “Do calor”, ele respondeu, apontando para suas letrinhas.
O assaltante viajou ao Brasil em 1970, depois de conseguir pular o muro da prisão onde estava preso usando uma corda e passar cinco anos escondido na Austrália.
Viveu 31 anos como dublê de fugitivo e celebridade no Rio, até decidir voltar para o Reino Unido e se entregar para a polícia. Ontem, ganhou de presente uma camisa da seleção brasileira.
No pub, Biggs foi bastante festejado por motoqueiros com jaquetas dos Hells Angels. Quando alguém se aproximava para tirar fotos, estendia o braço amistosamente e surpreendia o fã com uma “gravata”.
“Não estamos celebrando o assalto. Certo ou errado, ele agora faz parte da história britânica”, disse o filho Mike.
Na porta do pub, dois cartazes de “Procura-se” anunciavam um novo livro sobre o crime. Os lucros irão para as famílias de Reynolds e Biggs.