Conhecido como o “ladrão do século” pelo assalto ao trem pagador em 1963, no Reino Unido, o inglês Ronald Biggs alcançou marcos tão grandiosos como o roubo de 2,6 milhões de libras nos mais de 30 anos que viveu no Brasil. Aqui, Biggs virou celebridade, foi dono de casa noturna, recebia turistas britânicos e gravou música com Sex Pistols e filme com José Wilker. No Rio de Janeiro, teve um filho com Raimunda de Castro, Michael Biggs, seu maior defensor.

Segundo relatou certa vez em entrevista, Biggs decidiu se mudar para o Rio quando fugia da Austrália –onde seu rosto havia sido reconhecido. Ele foi a uma agência de turismo, viu um folheto turístico com imagens da baía de Guanabara e do Pão de Açúcar à noite e pensou: “este lugar é para mim”.

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Chegou ao Rio como Michael Haynes, na década de 1970. Adaptou-se rapidamente à cultura brasileira, encontrou Raimunda e passou nove anos como um desconhecido.

Em 1974, contudo, um repórter do tabloide “Daily Express” encontrou Biggs na Santa Teresa. A Scotland Yard ficou sabendo de seu paradeiro e a caçada ao prisioneiro foi noticiada na mídia britânica e brasileira.

Preso temporariamente no Brasil, foi convidado a aparecer no “Fantástico” ao lado de Raimunda. A revista “Manchete” chegou a estampar uma foto sua no banho.

Logo descobriu que, pela falta de um acordo entre governo britânico e brasileiro, não podia ser extraditado. Raimunda estava grávida e ele solto. Logo formaria sua família no Brasil, como um homem livre, tão livre quanto uma celebridade no Rio de Janeiro pode ser. 

SEX PISTOLS

Em 1978, com a visita do príncipe Charles ao Brasil, Biggs foi fotografado para o “Sunday Times”.

Na mesma época, participou da gravação da música “No One Is Innocent” (“Ninguém é inocente”) do grupo de punk rock britânico Sex Pistols.

Em 1988, sua história –já mitificada pela mídia de cá e de lá– virou o filme “Prisioner of Rio” (1988), no qual atuou ao lado de José Wilker. Seu personagem foi interpretado por Paul Freeman.

Como não podia deixar de fazer, lançou duas autobiografias.

Até o filho de Biggs ganhou fama. Mike fez carreira na década de 80 no grupo Balão Mágico.

A exibição de sua história foi vista como um desafio à Justiça britânica. Em 1993, o Reino Unido tentou extraditar Biggs em um acordo de troca de prisioneiros. Ele iria em troca de Paulo César Farias, ex-tesoureiro de campanha de Fernando Collor de Mello.

Tranquilo, disse à Folha na época que “nem sabia que Brasil e Inglaterra não tinham tratado de extradição”. “Gosto muito do clima tropical”, disse.

FALIDO

O sucesso, como para muitas celebridades cariocas, não foi eterno. Biggs não fez mais filmes, livros ou gravações.

Para sobreviver, vendia camisetas e outros objetos de sua “marca” em um site e organizava encontros com turistas que quisessem conhecê-lo –em sua casa mesmo, que ganhou ares de museu.

Em 2001, Biggs afirmou que desejava retornar ao Reino Unido. Seu advogado brasileiro na época, Wellington Mousinho, afirmou à Folha que Biggs só voltaria “com o perdão judicial”. Rumores indicavam, contudo, que ele receberia uma grande quantia do tabloide “The Sun” pela exclusividade de sua história.

Biggs já havia sofrido dois derrames e vizinhos cariocas diziam que ele andava com dificuldades e quase não podia falar. Só saía de casa para ir de táxi a sessões de fisioterapia, na Tijuca.

Mousinho ressaltou, contudo, que ele estava lúcido e negou que voltava ao Reino Unido porque estava doente e falido. O advogado disse que, segundo o próprio Biggs, voltava porque estava com saudades. Ao chegar ao Reino Unido, foi preso, desta vez em uma prisão de segurança máxima.

 Editoria de Arte/Folhapress