Passava das 22h30, no horário do Recife, quando o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB-PE), o secretário de cultura do estado, Marcelo Canuto, e o presidente da Assembleia Legislativa, Guilherme Uchôa (PDT-PE) chegaram ao velório de Reginaldo Rossi. 

A perda de um dos ícones da música pernambucana foi lamentada pelo governador, que reforçou a importância do cantor para difundir a cultura popular. “Reginaldo Rossi conseguiu quebrar preconceitos, aproximar classes antes distantes através da música, e o mais importante foi fazer música popular de qualidade”, relatou o governador ao comentar também o feito do artista em divulgar as belezas de Pernambuco mundo a fora.

A sensibilidade para captar a vivência comum das pessoas era a marca do trabalho de Reginaldo Rossi, e a prova disso eram as visitas incessantes de fãs e admiradores do rei do Brega. Segundo a assistência militar da Assembleia Legislativa de Pernambuco, a visitação do público ao velório foi interrompida à meia-noite deste sábado (21/12)  a pedido da família, que até às 8 horas terá privacidade para lamentar e se despedir do cantor.

A realização do velório na Assembleia Legislativa de Pernambuco para o presidente da Casa, Guilherme Uchôa (PDT-PE), é um dever do poder legislativo. “Um respeito a um legítimo exemplo de homem pernambucano”, disse o parlamentar.

O presidente da Secretaria de Cultura do Estado, Marcelo Canuto, que também prestou seus pêsames à Celeide e Roberto Rossi, mulher e filho de Reginaldo Rossi, respectivamente, antecipou que a Secult/PE em breve irá fazer uma homenagem ao cantor, que está na memória de todos os pernambucanos e brasileiros de diversas gerações.

A visitação ao velório será liberado para  o público das 8h até às 15h deste sábado. O velório acontece no plenário da Assembleia Legislativa de Pernambuco.

Doença

Para os familiares, a morte de Reginaldo Rossi foi uma surpresa. Roberto Rossi revelou ao UOL que não teve tempo de ter uma última conversa com o pai, mas que, na última vez que o visitou na UTI, Reginaldo o elogiou e falou que o filho estava bonito. “Minha mãe, que estava comigo, falou que ele tinha sua contribuição para isso”, comentou.

A força de vontade e o amor pela música acompanharam Reginaldo Rossi em todos os dias em que esteve internado. Segundo o filho, sua primeira pergunta após o câncer ser diagnosticado foi: “Quando é que vou poder cantar de novo?”.

O filho do “rei do brega” aproveitou ainda para enfatizar o quanto é feliz por ter tido inúmeras oportunidades de dizer o quanto amava o pai. “Meu pai venceu o maior dos obstáculos que é o preconceito. Tomo-o como um exemplo, uma pessoa perseverante que sempre lutou.”

Câncer no pulmão

O cantor do hit “Garçom” foi internado após ter recebido diagnóstico de derrame pleural, que é o acúmulo excessivo de líquido no espaço entre a pleura visceral (membrana que recobre o pulmão do lado de fora) e a pleura parietal (superfície interna da parede torácica). Na semana passada, foi descoberto que ele tinha câncer no pulmão.

Ao UOL o médico Iran Costa, que tratava o cantor, disse que apesar da melhora dos últimos dias, Reginaldo apresentou um agravamento nas funções renais e no pulmão nas últimas horas de vida. Segundo Costa, o tabagismo foi a principal causa da morte. O cantor era fumante assíduo há pelo menos 50 anos.

Reginaldo chegou a ser transferido para um quarto, mas retornou à UTI no dia 9 de dezembro, quando voltou a sentir dores. No mesmo dia foi submetido a uma nova cirurgia para a retirada de líquido no pulmão, com a instalação de um dreno.

Logo em seguida, ele iniciou o tratamento de quimioterapia e sessões de hemodiálise diária. Chegou a ter uma leve melhora no quadro clínico, mas na quinta-feira (19) voltou a respirar com ajuda de aparelhos.

O empresário do cantor, Antonio Mojica, contou ao UOL que antes de ser internado Reginaldo acreditava que estava com gripe. “Há um mês [antes do diagnóstico de câncer], ele falava que estava com gripe. Toda hora falava disso. Ele devia estar com problema no pulmão desde aquela época”. Antonio afirma que o cantor fumava muitos cigarros por dia. “Ele fumava toda hora. Chegava a acender um cigarro no outro”.

Reginaldo estava com show marcado para o Réveillon do Recife, no bairro do Pina. Ele deixa a mulher Celeide Rossi, com quem era casado havia mais de 30 anos, e com quem teve o filho Roberto.

Repercussão

Após a morte de Reginaldo Rossi, o prefeito do Recife, Geraldo Julio, decretou luto oficial de três dias na cidade. Em entrevista por telefone ao UOL, o cantor Falcão disse que o bom humor e “breguice” tão característicos do seu trabalho tiveram influências de Reginaldo Rossi. “Eu me inspirei nessa parte melódica e bem-humorada, quase sacana, que ele tinha”, disse o cantor cearense.

Veja o que artistas postaram no Twitter

Roberta Miranda, cantora
Gente ! Acordei com esta triste noticia . Temos registrada uma linda história . Obrigada meu Reginaldo Rossi

Serginho Groisman, apresentador
“A música brega é talvez a mais popular. Seu rei está morto. Passou a vida fazendo o que mais amava: cantar. RIP Reginaldo Rossi”

Astrid Fontenelle, apresentadora
“RIP meu querido #reginaldorossi. Muitas entrevistas, muita bagunça… Sujeito da melhor qualidade”,

Nany People, humorista
“A música Romântica está triste… vá Brilhar no Céu Querido Mestre … faleceu #ReginaldoRossi”

Tati Quebra Barraco, cantora
“Hoje é um dia de luto para todos os garçons o rei do brega Reginaldo Rossi, infelizmente fez a passagem. Vai em paz, vai com Deus!”

Falcão, cantor
“#Reginaldo O céu ficou mais brega, alegre e romântico”

Tico Santa Cruz, cantor
“Figuras emblemáticas de qualquer estilo merecem nosso respeito. Figuras emblemáticas de qualquer estilo merecem nosso respeito. O Brega de Reginaldo Rossi sempre foi leve e divertido. Fica esse brega de mal gosto atual e parte mais um artista que marcou sua história na música brasileira. Quando trabalhei como operador de Videokê, ouvi e até cantei sorrindo muitas vezes suas músicas. Luz no seu caminho”

Karina Buhr, cantora
“Reginaldo Rossi. O que vai ser de nós sem ele é que ele vai ficar do lado sempre, não tem jeito. Amor eterno”

Gaby Amarantos, cantora
“Nem consigo explicar o que estou sentindo, um mix de tristeza com alívio pois quando a gente ama alguém não aguenta ver o ser amado sofrendo e este homem na minha opinião é um dos MAIORES artistas do Brasil, estando no mesmo nível de Roberto Carlos mas a hipocrisia que alimenta o preconceito fez com que esse REI da música/voz/coragem não tivesse o reconhecimento que merecia”

Paulinho Serra, humorista
“Morreu com 69… Ironia ou não é uma maneira divertida de falar de um cara tão divertido. #RipReginaldorossi”

Ana Hickmann, apresentadora
“Gente, estou muito triste. Nosso grande amigo Reginaldo Rossi partiu. Papai do céu recebe este anjo ao seu lado, ele vai fazer muita falta. Força pra toda a família e para os fãs deste grande cantor”

Roberta Miranda, cantora
“Gente ! Acordei com esta triste noticia . Temos registrada uma linda história . Obrigada meu Reginaldo Rossi”

Arnaldo Branco, cartunista
“Morreu Reginaldo Rossi, uma espécie de Dicró da Jovem Guarda”

 

Trajetória

Reginaldo Rodrigues dos Santos Rossi nasceu em Recife no dia 14 de fevereiro de 1943 e ingressou na faculdade de engenharia, mas não chegou a se formar e trabalhou como professor de matemática.

Começou a carreira artística em 1964 imitando Roberto Carlos em bares e clubes da capital pernambucana. Na época, ele era acompanhado pelo conjunto The Silver Jets.

Em 1966, lançou o primeiro LP, “O Pão”, seguido por “Festa dos Pães”, no ano seguinte. Em 1970 se afastou do rock com “À Procura de Você”, que o introduziu no gênero brega-romântico, do qual se tornaria um dos maiores expoentes, ao lado de nomes como Odair José, Amado Batista, Wando e Agnaldo Timóteo.

Em meados dos anos 1980, já com 18 discos gravados, Rossi era um sucesso de vendas no Norte e Nordeste, mas permanecia desconhecido no eixo Rio-São Paulo. Em 1987 lançou um de seus maiores sucessos, “Garçom“, que o tornaria conhecido no Sul e Sudeste no fim dos anos 1990.

Ao longo de sua carreira, o cantor gravou com artistas como WanderléaRoberta Miranda e Planet Hemp, e aceitou de bom grado o título de “Rei do Brega”. Com cerca de 50 álbuns lançados, ele recebeu 14 discos de ouro, dois de platina, um de platina duplo e um de diamante.

Em 2011, Rossi venceu o Prêmio da Música Brasileira na categoria de melhor cantor popular, pelo álbum ao vivo “Cabaret do Rossi”, que também rendeu um DVD, em que fazia releituras de sucessos como “Taras & Manias”, “Dama de Vermelho“, “Boate Azul“, “Amor I Love You”, “Só Você” e “I Will Survive”.

Em 2009, ele participou do quadro “Dança dos Famosos”, no programa “Domingão do Faustão”.