Legolas está entre nós. Na vida real, ele chega sem arco-e-flecha, acompanhado pelo cachorro Sidi, um galgo persa de dez anos. Orlando Bloom completa 37 anos em janeiro e lá se vão dez anos desde o derradeiro tomo da trilogia “O Senhor dos Anéis” chegar aos cinemas dos quatro cantos do planeta. Embora não seja um personagem no livro de J.R.R. Tolkien passado muito antes das aventuras de Frodo Bolseiro, o nobre elfo de longas madeixas loiras e de mira precisa retorna na segunda parte da adaptação cinematográfica de “O Hobbit” por Peter Jackson.
“Em um primeiro momento, confesso que fiquei cabreiro. Mas depois que li o roteiro percebi que Pete usou liberdade criativa para, de certa forma, explicar para o fã do universo de Tolkien as origens de Legolas, quem de fato ele é, por que ele se une aos companheiros na Sociedade do Anel. Foi um presente para mim”, conta em entrevista ao UOL o ator recém-divorciado (da modelo australiana Miranda Kerr, com quem tem um filho, Flynn, de três anos) e em cartaz na Broadway – sua estreia nos palcos nova-iorquinos – com uma elogiada versão de “Romeu e Julieta”. Mas o papo girou mesmo em torno de “O Hobbit – A Desolação de Smaug”, que estreia nesta sexta-feira (13) nos cinemas. Confira a seguir os melhores trechos.
A volta de Legolas
“Quando Peter me chamou e conversamos, pensei: isso vai ser sensacional, é o mundo dele. Mas também tive receio – ele não é um personagem do livro [‘O Hobbit’]. Mas Pete tinha uma visão clara sobre como as narrativas se encontrariam. Por exemplo, com Legolas encontrando seu pai, Thranduil, vivido pelo Lee [Pace], o rei da Floresta Negra. Quando me dei conta, já estava voltando para a Nova Zelândia, onde passaria oito meses de novo na pele de Legolas, filmando para os dois tomos finais de ‘O Hobbit’. Minha preocupação era me repetir e parecer um intruso naquele outro mundo. Mas aí a equação era simples: Adoro Legolas. Adoro Peter. Adoro a Nova Zelândia. Pronto. Fui. E quer saber? Foi maravilhoso.”
Peter Jackson
“O Pete dirige de uma maneira única. É um processo criativo muito singular, você explora o momento, cria na hora. Obviamente, também há muita preparação, mas os atores sentem como se tudo estivesse acontecendo naquele momento. E ele é exatamente o mesmo dirigindo, todos estes anos depois. Claro, a tecnologia hoje é ainda mais apurada e ele tem ainda mais possibilidades de criar novos universos, ainda mais elaborados. Mas Pete segue tendo algo fundamental para mim: um espírito de criança. Ele coleciona coisas. Ele adora seus joguinhos. Ele tem um senso de humor delicioso. Ele me lembra de meus colegas na época de escola. Pete é algo assim como uma criança feliz. E foi ele quem me tirou da escola de teatro e me colocou no mapa. Minha carreira, o começo dela, o ponto de partida, foi basicamente assim. Foi ele quem me deu a oportunidade de estar hoje na Broadway. Se Pete me disser: comece a pular em um círculo, Orlando, minha única questão vai ser: o quão alto você deseja, meu querido?”
Tauriel (Evangeline Lilly) e Legolas (Orlando Bloom) em “O Hobbit – A Desolação de Smaug”
Arqueiro da Terra-Média
“Fiquei com medo de ter desaprendido o arco-e-flecha, mas assim que fechamos a volta de Legolas, comecei imediatamente a treinar, a ter aulas novamente, assim como voltei a galopar. Foram seis semanas de treinamento intenso, essenciais para mim, pois me relembraram do processo todo de ‘O Senhor dos Anéis’, de como encontrei meu Legolas. Li muito sobre os elfos na década passada, quando começamos a nos preparar para ‘O Senhor dos Anéis’. E uma das principais referências para os movimentos deles, a graça, a elegância, a precisão, foi ‘Os Sete Samurais’. Vi muito (Akira) Kurosawa para criar o Legolas. Quando voltei para o ‘Hobbit’, vi que ainda posso me divertir muito com o arco-e-flecha. Minha entrada no filme, por exemplo, acontece de forma um tanto quanto surpreendente, em uma cena com o Thorin, o personagem do Richard Armitage. Aliás, tenho várias cenas bem divertidas com ele, prestem atenção.”
Os ‘outros elfos’
“O interessante no filme, para mim, e para quem gosta do Legolas é que você vai ver agora os elfos de Mirkwood, completamente diferente dos de Rivendale. Mais parecidos com o Legolas, que não está ali de brincadeira, ele deixa mais claro o seu aspecto mais selvagem. E a jornada de Legolas, em ‘O Senhor dos Anéis’, por sua vez, se explica melhor agora. Você entende exatamente por que ele vai fazer parte da Sociedade do Anel. A relação dele com Thranduil, o pai, é importante para entender quem é, de fato, Legolas, o quão diferente ele é dos elfos de Rivendale, menos sábio, talvez, mas mais arrojado.”
Tauriel
“Desta vez o Legolas não está sozinho, mas acompanhado de Tauriel, um personagem criada pelo Pete (e vivido pela bela Evangeline Lilly, a Kate Austen da série ‘Lost’), que não existia no livro. E ela é danada. Só faz o que quer, é um pouco petulante. E Legolas ao mesmo tempo se encanta por esta atitude e também se irrita com ela, que meio que o tira do sério. Mas a atração entre os dois é clara. Mas não é Romeu e Julieta não. É uma conexão interessante, mas que chega acompanhada de algumas complicações.”
Adrenalina
“Nem eu nem Legolas corremos atrás da adrenalina do perigo, mas gostamos de correr riscos. Corri um risco enorme agora na Broadway, minha estreia no maior palco do teatro americano. E nunca havia feito nada profissional de Shakespeare, só havia feito de forma amadora, na escola. É meu Everest, que estou escalando neste exato momento. Isso me deixa animado. Não há nada igual a ter um público na sua frente. E você pensa: “Oito vezes por semana, durante quatro meses, tudo pode acontecer, e o público vai ver”. É esta pressão que me mantém jovem, e, espero, ainda, uma pessoa interessante. É o que me faz seguir adiante, sedento por coisas novas.”