Enquanto a neve cobre calçadas e ruas de Detroit, no interior aquecido do pavilhão do Cobo Center, onde acontece o maior salão automotivo americano, diferentes montadoras apostam em uma paleta diversa, que tenta fugir ao máximo do branco.

Nos estandes, os tons de azul, vermelho e amarelo predominam e apontam qual é a tendência da temporada 2014 quando o assunto é pintura de carro.

 Joshua Lott/ReutersFuncionário de concessionária da Chrysler em Detroit limpa 300 logo após passagem do vértex polar; é mais fácil achar um carro de cor chamativa no meio da neve

Ter diferentes cores marcando a apresentação de novos modelos não é algo fora do espectro, mesmo no Brasil. Muitas delas são tão chamativas, tão brilhantes, que nem chegam aos concessionários. Mas basta comparar os lançamentos do Salão de Detroit 2014 com tudo visto no último Salão de São Paulo (em outubro e novembro de 2012) e mesmo com o Salão de Frankfurt (em setembro último) para saber que algo está muito diferente. Prata e branco abundantes nos estandes de algumas marcas (a Mercedes-Benz adora a primeira cor, enquanto a Volkswagen carrega em estandes alvos) rarearam como cabelos grisalhos em cabeça tingida. 

24 TONS DE VERMELHO
Nada é aleatório na indústria automotiva, claro, e nem só o excesso de neve pode explicar a fuga do “sem-gracismo” de branco, prata e preto no salão. Até porque estes tons não vão desaparecer das concessionárias e ruas ao redor do mundo, ainda que passem a conviver mais com outros tons. A melhor explicação vem de estudos fornecidos por grandes empresas fornecedoras de tintas, parceiras das montadoras.

Segundo a americana PPG, 2014 seguirá dominado pelo branco: a cor mais popular em todo o mundo em 2013 ainda vai recobrir um em cada quatro carros vendidos este ano, segundo dados globais fornecidos no começo de janeiro. Logo depois, ainda veremos muito prata e preto, cada um com cerca de 19% da preferência.

No Brasil, apesar do ambiente tropical, o prata ainda será dominante — a América do Sul é a única região do mundo que prefere este tom metálico ao branco, com um em cada três carros pintados assim.

Mas haverá um crescimento de vermelho e azul, sobretudo em carros voltados ao público mais jovem e em modelos esportivos, em todo o planeta aponta a PPG, com percentuais encostando nos 10% para cada uma das cores. A Axalta, ex-DuPont, concorda com as cores, mas acredita que vermelho e azul vão dividir 14% das encomendas com o verde. Bege, marrom e dourado correrão por fora.

Não por acaso, vermelho e azul dominaram as aparições em Detroit. O mais vistoso deles foi exposto pela Infiniti, marca premium da japonesa Nissan, com o sedã esportivo conceitual Q50 Eau Rouge, pintado com 25 demãos: sobre a camada básica na cor prata, outras 24 camadas de vermelho e vernizes formam a pintura profunda que funciona como imã de olhos e câmeras. Ainda não se sabe se vingará como série especial no carro de produção que surgirá em 2015 também aqui no Brasil.

Camadas múltiplas também na carroceria amarela da nova geração do Mustang. Os dois espaços da Ford até tinham exemplares em cores mais tradicionais — um conversível chumbo, outro cupê preto, mais um azul… — mas o Mustang Triple Yellow dominava e sem depender de música sertaneja “chiclete”, como ocorreu com o rival Camaro aqui no Brasil. O nome explica o processo: são três demãos de amarelo.

Uma dessas cores especiais, porém, vingará, ao menos no mercado americano: a Chrysler mostrou o tom verde Styker para seu esportivo SRT Viper e deu preço — US$ 5.700, cerca de R$ 13.400 (câmbio desta terça-feira, 21), pela cor especial. Afinal, ficar por dentro da moda — inclusive a automotiva — sempre custa caro.