Há nove meses, a família do preso Ronalton Silva Rabelo, 32, busca notícias sobre o paradeiro do detento do Complexo Prisional de Pedrinhas, sem sucesso. Detido por assalto no Presídio São Luís 2, Rabelo desapareceu no dia 1º de abril de 2013, antes de ter o alvará de soltura expedido pela Justiça, o que ocorreu no dia 11 daquele mês. Ele estava em prisão provisória desde setembro de 2012 e não chegou a ser condenado.
Desde de lá, família e Estado travam uma luta de versões sobre o desaparecimento. A família acredita que ele esteja morto, enquanto o governo trabalha com a hipótese de fuga, já que nem o corpo do detento nem algum vestígio dele foram encontrados. Porém, à época, não houve relato de fugas da unidade.
O caso chamou a atenção das entidades de direitos humanos maranhenses. A Comissão da Assembleia Legislativa encaminhou pedidos de investigação do caso ao governo do Maranhão.
Na segunda-feira (13), a presidente da comissão de Direitos Humanos da Assembleia, Eliziane Gama (PPS), pediu apoio à comissão de senadores do Estado para que o paradeiro do preso seja desvendado.
“É inaceitável que tenhamos sumiço de detentos dentro do sistema prisional. Não se sabe se está morto, se participou de uma fuga ou o que de aconteceu. Já pedimos providências, mas até agora não recebemos nenhum resultado das investigações da polícia”, disse.
A situação de Ronalton lembra à do pedreiro Amarildo Dias de Souza, desaparecido na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, em julho do ano passado.
Reconhecimento da morte
Segundo a prima de Rabelo, Iara Carvalho Carvalhêdo, o caso passou a ser uma tortura psicológica para a família.”Queremos que o Estado reconheça a morte dele e dê uma resposta pra minha tia”, disse.
Iara diz que não havia motivo para que Rabelo fugisse e não fosse em casa ver a mãe. “A mãe dele é muito doente, e ele era louco pela mãe. Jamais teria fugido e não a procurado”, comentou.
A saga da família em busca do corpo ainda parece longe do fim, embora familiares não esperem mais encontrá-lo com vida.
“A história que sabemos é que ele foi esquartejado, e os pedaços, jogados no lixo. Em seguida, o caminhão o levou. Andamos muito naquele presídio, no IML [Instituto Médico Legal]. Até adoeci de tanta história bárbara que ouvi”, disse.
Uma das provas da família é um despacho da Justiça que transferiu presos considerados mais perigosos para presídio federal, em Mato Grosso do Sul, em julho. Um deles foi transferido sob alegação de “mandar esquartejar um preso”.
“Eles [do Estado] sustentam de que não há provas e ele pode ter fugido. Mas lá em frente à penitenciária tem uma senhora que um dia desses ela falou pra uma amiga minha que um detento que saiu de lá contou tudo pra ela, que ele foi esquartejado e ainda comeram o fígado dele”, disse.
Outro argumento apontado pela família é uma possível omissão de seguranças do presídio. “Os presos ficam lá desassistidos, jogados. Ninguém acompanha, não tem um agente pra tomar conta. Quando têm, eles são cúmplices e fazem o que os detentos mandam. Como pode eles matarem em uma só noite cinco homens e ninguém ouviu nada?”, questionou.
Inquérito aberto
Em nota enviada ao UOL, a Secretaria de Estado da Justiça e Administração Penitenciária informou que o caso está sendo investigado pela Superintendência de Investigações Criminais.
“A polícia trabalha com a possibilidade de fuga do detento, já que a perícia na unidade onde ele cumpria pena não identificou sinais de morte. O inquérito foi encaminhado à Justiça no dia 20 de dezembro de 2013”, informou.