Denny Cesare/Futura Press/Estadão Conteúdo
Cinco vítimas da chacina que aconteceu no fim de semana em Campinas foram enterradas nesta terça-feira
A Ouvidoria das Polícias de São Paulo vê “fortes indícios” de que a chacina que deixou 12 mortos na madrugada de domingo em Campinas (a 93 km de São Paulo) tenha sido cometida por policiais.
De acordo com o ouvidor Júlio César Fernandes Neves, “nove entre dez” depoimentos tomados até o momento apontam para a participação de policiais.
“Os indícios são muito fortes. De cada dez pessoas que falam do caso, nove citam a participação de policiais”, conclui Neves.
Segundo Neves, o objetivo da investigação é determinar se houve alguma conduta ilegal de policiais paulistas e, se for o caso, determinar a punição, que pode incluir a expulsão da corporação, além da ação na esfera criminal e sua respectiva pena.
A reportagem do UOL falou com duas famílias de pessoas mortas na chacina. Em ambos os casos, as pessoas, que pediram para não serem identificadas, confirmaram a informação dada por Neves.
“Eu não estava presente, mas uma pessoa que viu o momento da abordagem me disse que quem atirou estava de farda. Para nós, foi a polícia que o matou”, disse a tia de uma das vítimas.
Segundo o relato de um amigo de outra das vítimas, que estava com ele no momento do assassinato, três homens chegaram em um Celta e colocaram todas as pessoas de costas.
“Eles sabiam em quem iam atirar. Estávamos de costa e ouvimos três tiros. Nenhum errou. Ouvimos um grito que mandava a gente sair correndo, e foi o que fizemos”, disse a testemunha.
Do grupo, que tinha cinco pessoas, apenas uma foi alvejada.
O Secretário de Estado da Segurança Pública, Fernando Grella, deve fornecer detalhes sobre as investigações, que foram declaradas prioritárias pela polícia, na tarde desta terça-feira (14).
Chacina
Todos os mortos na chacina eram do sexo masculino e sete tinham passagens pela polícia. Os corpos começaram a ser enterrados nesta manhã.
Um outro corpo, carbonizado, foi encontrado na segunda-feira (13), e a polícia investiga se a morte estaria ligada à chacina.
A polícia também começou a tomar o depoimento dos familiares. Além da Ouvidoria, uma força-tarefa composta por delegados de São Paulo e de Campinas investiga as mortes.
O Ministério Público de São Paulo também participa das investigações O promotor responsável é Ricardo Silvares, que teve na tarde de segunda-feira uma reunião com os delegados da força-tarefa.
Ele foi procurado para comentar o caso, mas não foi localizado.
Toque de recolher
De acordo com a polícia, não está descartada a hipótese de que a onda de mortes tenha sido originada por conta do assassinato de um policial militar que acabou baleado, em sua folga, durante uma tentativa de assalto a um posto de combustível na região do bairro de Ouro Verde, um dos mais populosos e violentos de Campinas.
O acerto de contas entre quadrilhas rivais também é cogitado pela polícia, embora a hipótese tenha perdido força.
A PM informou, em nota, que a Corregedoria acompanha as investigações e que houve reforço de policiamento na região dos assassinatos.
Apesar disso, segundo parentes e amigos das vítimas, a região onde ocorreram as mortes está “tomada pelo medo” e é alvo de uma espécie de toque de recolher tácito.
“Estão falando que a coisa não vai ficar só nisso e que, para cada um dos mortos, 13 policiais vão morrer. Por isso, todo mundo está ficando em casa. Só sai quem tem que trabalhar, e as ruas estão vazias”, disse o amigo de uma das vítimas que pediu para não ser identificado.