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Cobertores térmicos especiais foram usados pela organização de Sochi para estocar neve
Os estádios e instalações da Olimpíada estão prontos em Sochi, mas há um detalhe que tira o sono da organização dos Jogos de Inverno a apenas alguns dias da abertura, nesta sexta-feira. Fevereiro chegou com temperaturas mais altas do que o desejado, e o temor pela escassez de neve é uma ameaça real para os Jogos de Inverno.
No balneário de Sochi, desenhado pela imagem de palmeiras e de flores que sobrevivem o ano inteiro, o mês da Olimpíada começou com temperaturas positivas, flutuando entre 0 e 11 graus. Alguns trechos das montanhas que receberão as disputas apontaram camada de apenas dois centímetros de neve, volume considerado preocupante.
Apesar dos mais de US$ 50 bilhões investidos no evento, o dinheiro não pôde resolver uma questão que foge do controle da organização. No entanto, os recursos financeiros puderam pelo menos amenizar uma esperada falta de neve nas próximas semanas.
Os russos estocam neve em Sochi há mais de um ano, já prevendo a demanda emergencial para o mês de disputa da Olimpíada. A organização dos Jogos de Inverno contou com quatro maneiras de incrementar a neve das disputas de montanha, sendo uma delas artificial.
Neste recurso em questão, mais de 400 tubulações que produzem cristais artificiais foram instaladas nas montanhas, à procura de circulação de água abaixo da superfície. A operação deste mecanismo cabe a uma empresa dos Estados Unidos.
Com a consultoria de outra empresa especialista do setor, finlandesa, o objetivo era chegar à abertura da Olimpíada com cerca de 500 mil metros cúbicos de neve em recipientes nas sedes de competição, protegidos por enormes cobertores térmicos. A organização promete condições de provas mesmo se nenhuma queda de neve acontecer durante o evento.
“A neve vem sendo estocada. Ela é útil principalmente para a construção de pistas de várias modalidades. Mas nada substitui a neve natural ou a neve fabricada. Essa é uma preocupação, sem dúvida”, diz Stefano Arnhold, chefe da missão brasileira nos Jogos Olímpicos de Inverno Sochi.
O dirigente, que também preside a Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN), diz que o cenário de improviso impacta tecnicamente a disputa das provas do gênero: “muda bastante as características de competição. O esqui alpino é a modalidade mais afetada”.
Em fevereiro de 2013 dois eventos já haviam sido cancelados em Sochi por falta de neve, em provas de snowboard cross e esqui cross country.
A última edição dos Jogos de Inverno também já havia sofrido com o mesmo problema. Muitas provas de montanha acabaram adiadas, complicando o calendário de disputas em Vancouver, em 2010. Uma das imagens que ficaram do evento no Canadá foi a dos helicópteros que despejaram baldes de cristais de neve sobre a pista do snowboard.
“Ano passado, quando estivemos no evento teste, foi um ano ruim de neve e a competição foi boa, então acho que pior vai ser difícil, até porque agora eles contam com mais recursos e podem trazer neve de onde eles quiserem”, afirma Isabel Clark, brasileira do snowboard, em uma visão otimista da questão.
“Não fui a Sochi, não conheço ainda as condições de prova. Mas tenho conversado bastante com quem já foi. Existe a possibilidade de estar mais quente mesmo, mas os russos fizeram um ótimo trabalho guardando neve. Na Europa tem acontecido de o inverno chegar mais tarde nos últimos anos, e o pessoal tem bolado esquemas de guardar neve de um ano para o outro. Não acho que seja um problema para cancelamento (de provas). Mas realmente as condições ficam mais difíceis para esquiar, você tem que ter a cera adequada para fazer seu esqui deslizar mais. Mas são condições iguais para todo mundo”, diz Leandro Ribela, brasileiro que competirá no esqui cross country, na prova de sprint (1,6 km).