Em vez de filas de caminhões carregados no destino, filas de caminhões vazios na origem. Esta é a principal novidade da safra 2013/14, segundo dois dos maiores transportadores de grãos do País: Cláudio Adamuccio, do G10 de Maringá, e Dirceu Capeleto, da Bergamaschi de Rondonópolis. O escoamento da produção do Centro-Oeste, antes concentrado em fevereiro e março, agora tende a se prolongar por mais meses.
Na visão de Adamuccio, depois de um 2013 de filas quilométricas, as autoridades acharam por bem tomar providência. A principal foi a implantação do sistema de agendamento prévio de desembarque em Santos, a exemplo do que já existe há alguns anos em Paranaguá. Em caso de descumprimento, as tradings ficam sujeitas a multas salgadas. “Como não podem mais deixar o caminhão esperando lá no destino, também não têm pressa de carregá-lo. Assim deixam de pagar diárias”, diz o empresário, para quem “novamente o transportador paga a conta”.
De acordo com ele, a safra deste ano provou que não faltam caminhões no Brasil e isso pode inclusive desestimular as vendas desses veículos. “Antes, quando não eram fiscalizadas, as tradings ficavam loucas para mandar toda a soja de uma vez. E aí havia a falsa sensação de que não tínhamos caminhões o suficiente. Agora, elas têm cotas máximas de embarque diário de acordo com seus contratos de venda. E muitas vezes sobram caminhões na origem”, declara.
Com menos embarques, os fretes não atingiram os mesmos níveis do ano anterior, segundo ele. “Teremos trabalho por mais meses de modo que o frete não vai subir tanto nem cair tanto. Antes, um frete de R$ 100 chegava a R$ 140 no pico de safra e baixava a R$ 70 na entressafra. Subia muito e descia muito. Agora vai subir a R$ 120 e baixar a R$ 90”, exemplifica.
Já Capeleto ressalta que o terminal da ALL de Rondonópolis, que atende sua primeira safra, também tem agendamento prévio e o Ministério Público “está em cima” cobrando seu cumprimento. “A Cargil, por exemplo, me disse que estava com uma cota de apenas 35 desembarques por dia”, afirma.
Para ele, além da fiscalização, há outros motivos menos impactantes que justificam a ausência de filas nas estradas perto do terminal de Rondonópolis. “Por Araguari, a Vale está levando mais soja (até o Porto de Vitória) que nos outros anos.” Outro fator é que, segundo o empresário, Bunge e a Maggi estão indo “a todo vapor” para Miritituba, no Pará. “Neste ano, vão com um milhão de toneladas e no ano que vem já com cinco milhões”, declara.
Em Santarém, onde só a Cargil tem terminal, os embarques também estão crescendo.
O fato de o novo terminal da ALL se localizar num centro urbano importante de Mato Grosso também teria impacto no fim das filas. “Aqui, os sindicatos estão em cima, o Poder Público chega mais rápido que em Alto Araguaia”, explica.
Por último, Capeleto diz que o armazém da Noble, ao lado do da ALL, também está prestando serviço de transbordo da soja para as tradings.
Da mesma forma que Adamuccio, Capeleto afirma que o frete não alcançou os patamares do ano passado. Ele acredita que, em compensação, a descida do valor na entressafra será mais lenta. De qualquer forma, o empresário diz que o setor terá queda da rentabilidade média, uma vez que os custos vêm subindo bastante.