Há alguns dias, os brasileiros foram surpreendidos com a nova ‘modinha’ que circula entre os jovens. Assim como ocorreu com o piercing e a tatuagem, a bola da vez são os aparelhos ortodônticos piratas, vendidos sem cuidado algum por camelôs e também em redes sociais.

O problema é que o uso deste tipo de aparelho, se não acompanhado por um cirurgião-dentista pode acarretar sérios problemas na saúde dos jovens.
A reportagem conversou com a dentista especializada em ortodontia, Cinthia Suzuki, que tirou algumas dúvidas que rondam as famílias e faz um alerta aos pais. Ela informou que alguns pacientes já a questionaram sobre o uso deste tipo de aparelho, porém não presenciou ninguém que o tenha usado. “Acredito que as vendas ainda estejam ocorrendo somente nos grandes centros de compras populares, porém todo cuidado deve ser tomado para evitar que essa moda chegue ao interior”.
O aparelho ortodôntico trata-se de ‘ferrinhos’ colados nos dentes, onde são colocados fios e elásticos coloridos. Muitos desses fios são de nylons usados em vassouras. “O problema não está somente no momento de colar os ferrinhos nos dentes, mas a partir do ato em que alguém coloca o arco no ferro, ele fará um movimento no dente, e sem um acompanhamento odontológico adequado, o uso incorreto trará sérios danos à saúde bucal desse indivíduo”, explicou Cinthia.
Entre os riscos ocasionados pela má conduta dos adolescentes destacam-se a retração de gengiva, perda óssea, perda do dente e a reabsorção de osso e raiz dos dentes.
Os aparelhos utilizados nos consultórios odontológicos são rigorosamente supervisionados pela Anvisa quando nacionais e submetidos a importantes órgãos reguladores quando importados.
Já os aparelhos piratas, chegam ao mercado informal sem qualquer tipo de controle e podem até mesmo causar intoxicações, alergias severas e alterações na gengiva.
Cinthia enfatizou que a abordagem ortodôntica não abrange apenas a ‘colocação de ferrinhos e fios coloridos’ na boca do paciente, mas, principalmente, um diagnóstico personalizado para definir a melhor forma de tratamento de más oclusões: mordida aberta, mordida cruzada, apinhamento ou espaçamento entre dentes, excesso ou falta de dentes sem que os tenham sido extraídos, e alterações faciais mais complexas que envolvem problemas de crescimento (respiração bucal, por exemplo). Há tratamentos que levam apenas alguns meses, enquanto outros podem demorar anos para serem concluídos com sucesso.
Para se tornar um profissional capaz de cuidar da saúde dos dentes, o dentista estuda durante cinco anos na faculdade e depois de formado, faz especialização em ortodontia por mais dois anos e meio para estar apto a colocar aparelhos. “Por isso, os riscos de um leigo fazer a colocação de um aparelho são muitos grandes”, concluiu a dentista.

Veja sete bons motivos para dizer “não” aos aparelhos ortodônticos piratas

1 – Não é porque é modismo que você tem de pôr em risco sua saúde. Caso tenha de fato problemas dentários, procure um cirurgião-dentista. Ele poderá fazer um primeiro atendimento e encaminhamento para um especialista em ortodontia.

2 – Todo tipo de modismo que envolve intervenções diretas no corpo deve ser encarado com muito cuidado. Principalmente a boca, já que é porta de entrada para muitas infecções. Já está provada, por exemplo, a correlação entre infecções bucais e doenças do coração como a miocardite – podendo levar à morte.

3 – Desconfie de tudo o que é barato e fácil demais, como a colocação de aparelho por um vendedor ambulante ou ainda através de anúncios em jornais. Um especialista leva anos para se formar e estudar tudo o que se faz necessário para contribuir com sua saúde bucal e sua saúde geral. Além disso, essa prática é completamente ilegal.

4.      Acredite no ditado “o barato sai caro”. Neste caso, o uso de produtos e serviços ortodônticos não regulamentados pode resultar na perda dos dentes e na reabsorção óssea, restando apenas, num curto prazo, a opção de usar dentaduras.

5.      Mesmo quando tratadas por um profissional experiente, há alterações dentárias que envolvem riscos. Isso aumenta ainda mais a importância de contar com um ortodontista que possa gerenciar esses riscos a partir de conhecimentos de anatomia, fisiologia, histologia etc. Jamais se deve abrir mão da qualidade profissional, principalmente quando se trata da sua boca.

6.      Tenha sempre em mente que um leigo ou ainda um prático não têm conhecimento suficiente e tampouco condições (nem interesse) de orientar as pessoas sobre a necessidade de prevenção e higiene rigorosa desses aparelhos – o que pode levar a um aumento considerável de cáries e infecções gengivais e periodontais.

7.      Como já foi dito há séculos, “dificilmente existe alguma coisa neste mundo que alguém não possa fazer um pouco pior e vender um pouco mais barato. E as pessoas que consideram apenas preços são suas merecidas vítimas”. Vale a pena se debruçar sobre esse pensamento antes de fazer uma escolha tão errada como comprar aparelhos piratas de profissionais igualmente piratas. Consulte sempre um cirurgião-dentista. Ele é o profissional habilitado para realizar esse tipo de tratamento quando há indicação.

(Fonte: Prof. Dra. Kátia Regina Izola, cirurgiã-dentista, ortodontista, e professora da Escola de Aperfeiçoamento Profissional (EAP) da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas)