Desde o momento em que foi anunciada a morte do ator Paulo Goulart nesta quinta (13), sua família tem sido um exemplo de serenidade e simplicidade.
Comentou-se durante o velório, no Theatro Municipal de São Paulo, que a princípio a família recusara o local para abrigar a cerimônia, pois achava que seria muita ostentação. Foram convencidos com o argumento de que era uma homenagem à altura do grande ator que ele foi.
A plateia que compareceu à última homenagem ao ator também era composta degrandes nomes do teatro e da TV, como Laura Cardoso, Marcos Caruso, Odilon Vagner, Juca de Oliveira, Vera Holtz, Tuca Andrada, Irene Ravache, Tuna Duek, Ney Latorraca, Miriam Melher, Tania Bodezan, o autor e genro Lauro César Muniz, além de familiares e fãs.
No local, Paulo Goulart Filho, o Paulinho, que completou 49 anos nesta mesma quinta-feira, contou ao UOL como foram os últimos momentos do pai.
“Estávamos todos juntos [quando ele se foi], graças a Deus. Foi uma passagem muito bonita. O final foi difícil, ele estava impaciente, com dores, ficou sedado. Foi nesse momento que esse amor que temos uns pelos outros apareceu muito forte. Estavam todos os filhos, todos os netos, foi um momento em que a gente pôde transmitir esse amor todo para ele. Nós estávamos nos preparando para esse momento, mas não adianta, nunca estamos preparados. A partida é doída… Mas agora vou celebrar duas vezes neste dia. Meu nascimento e o renascimento dele, porque não acaba aqui.”
Na chegada dos amigos ao Municipal para o velório, além do filho do ator, sua mulher Nicette Bruno e as filhas Bárbara e Beth cumprimentavam a todos com os olhos marejados e um sorriso de agradecimento no rosto.
Vera Holtz disse que aprendeu com os Goulart como se relacionar com o sucesso. “A gente aprende com eles a ter essa cordialidade com o público. Mas o exemplo que tiro de nossa convivência é a da unidade familiar.”
“A sensação que você tinha era a de que ele estava sempre disponível a te ajudar. Deixa um legado sensacional no teatro e cinema, e para os brasileiros sua participação nos movimentos sociais. Nós atores somos uma tribo e por isso a gente nunca se despede. E Paulo era um espírita, então no caso dele é apenas um tchau. Não choramos, não é triste. Logo nos encontraremos com ele, com Raul Cortez e Paulo Autran”, disse Juca de Oliveira na saída do teatro.
“Eu trabalhei com o Paulo em ‘Esperança’ e ele me deu o apelido de potranca, que foi um estouro. E a gente se divertia muito fazendo aquilo. Já trabalhei com todos ele separadamente, nunca com a família toda. Porque isso acontece muito com eles. Eles são uma trupe”, completou a atriz Lúcia Veríssimo, que veio direto do aeroporto para o velório.
A postura da família diante da fama é justificada por Paulinho: “Somos empregados da arte. Nada mais.”
Agora, ele conta, a família irá acolher a mãe pela perda do companheiro de 62 anos.
“Agora a ‘baixinha’ vai estar no nosso colo mais ainda. Foram 60 anos de casados, mais dois de namoro. É difícil, né? Você acostumado com a pessoa ao seu lado no dia a dia. Mas ela sabe também que tem muito amor dos filhos e dos netos. Vamos ficar todos juntos.”
Trajetória
Paulo Afonso Miessa nasceu no dia 9 de janeiro de 1933, em Ribeirão Preto (SP), e adotou o nome de Paulo Goulart quando iniciou a carreira artística em 1951, como ator de radionovelas da Rádio Tupi. O Goulart veio de um tio, o radialista Airton Goulart. Ainda naquele ano fez seu primeiro trabalho na TV, com o comediante Mazaroppi.
Goulart conheceu a atriz Nicette Bruno, em 1952, quando ela procurava um galã para atuar ao seu lado na peça “Senhorita, Minha Mãe”. Pouco depois, os dois começaram a namorar e permaneceram casados por toda a vida de Paulo. Juntos, tiveram três filhos, sete netos e dois bisnetos. Os três filhos do casal, Beth Goulart, Bárbara Bruno e Paulo Goulart Filho, são atores, assim como as netas Vanessa Goulart e Clarissa Mayoral.
A primeira telenovela de Goulart foi “Helena”, de 1952, que foi exibida na TV Paulista e tinha texto do autor Manoel Carlos – o mesmo da atual novela das nove, “Em Família”.
Na Globo, fez papeis marcantes como o do industrial Claude Antoine Geraldi, de “Uma Rosa com Amor” (1972), o vilão Donato, de “Mulheres de Areia” (1993), e o padrasto da personagem de Deborah Secco em “América” (2005).
Nos anos 90, Goulart também atuou em novelas do SBT (“As Pupilas do Senhor Reitor”) e da TV Bandeirantes (“A Idade da Loba” e “O Campeão”).
Voltou à Globo aproveitando o bom momento das minisséries e atuou em “O Auto da Compadecida”, “O Quinto dos Infernos”, “JK”, “Amazônia”, entre outras. Seus último trabalhos na emissora foram a novela “Morde e Assopra” (2001) e o seriado cômico “Louco por Elas” (2012).
Goulart teve ainda longa carreira no cinema, onde atua desde a década de 1950. Seus últimos trabalhos em longa-metragem foram “Chico Xavier” (2010) e “Nosso Lar” (2010) – ambos de temática espírita, doutrina adotada por ele e Nicette – e no drama de época “O Tempo e o Vento” (2012), recentemente exibido como série de TV na Globo.