Hoje e amanhã, a mídia encerra suas análises sobre os benefícios e malefícios que advieram do movimento militar, deflagrado em 31 de março, há 50 anos. Incapaz de competir com a grande imprensa “falada, escrita, filmada e televisada”, este humilde canto de página registra algumas pérolas políticas do período que muita gente denominou de ‘anos de chumbo’. As histórias ou estórias foram colhidas em publicações dos escritores Sebastião Nery e Stanislaw Ponte Preta.
O baixinho era sincero
De Gaulle vinha de Brasília para o rio, na companhia do presidente Castello Branco. As pernas enormes, mal acomodadas na poltrona do avião, beiravam à altura de Castello. Os dois curtiam um francês castiço de Paris. De Gaulle: – Presidente, o senhor que é da América Latina, como definiria um ditador sul-americano? Castello: – Um homem com extrema facilidade de chegar ao poder e extrema dificuldade de sair.
Como é que é?
Arthur da Costa e Silva chegou a São Paulo e deu entrevista coletiva. O repórter Milton Parron, depois de algumas perguntas, saudou o presidente de plantão: – A Jovem Pan deseja a Vossa Excelência feliz estada em São Paulo. Costa e Silva que nunca teria condições de chegar a estadista, pois suas virtudes intelectuais eram reduzidas, respondeu: – Quem é essa jovem?
Lamentos e sussurros
Noite de 13 de dezembro de 1968. Na televisão, o ministro Gama e Silva lia o AI-5. O palácio do Congresso, em Brasília, humilhado em conchas, iluminava as angústias nacionais. O senador Mem de Sá chegou à sala das taquigrafas que falavam alto demais. – Minhas filhas, falem baixo que a Constituição está morrendo.
Prazo de validade fugaz
Em 1966, ano que o Brasil deu um grande vexame na Copa do Mundo, sendo eliminado na primeira fase, o general Olímpio Mourão Filho doava ao museu Mariano Procópio de Juiz de Fora (MG), a espada e a farda de campanha que usou, como comandante das forças que fizeram a revolução. O gesto mereceu a seguinte observação de Stanislaw Ponte Preta, irreverente e sarcástico escritor carioca: “Isso que é foi revolução! Com pouco mais de dois anos já estava dando peças para museus”.
Exemplo de estadista
Curto e grosso, o presidente João Baptista Figueiredo pronunciava frases de efeito que desnorteavam tanto a esquerda quanto a direita. Perguntado por jornalistas sobre o que ele achava do povo, o general respondeu de bate-pronto: – Prefiro o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo. Em outra oportunidade, questionado sobre o que faria caso ganhasse o salário mínimo pago no Brasil, apontando para a própria cabeça, Figueiredo respondeu: – Eu daria um tiro no coco.
Nada a ver com ele
O presidente Ernesto Geisel esteve na Inglaterra, em maio de 1976. Quando saía de um almoço, oferecido pela rainha Elizabeth, percebeu várias pessoas batendo palmas. Ficou feliz, levantou a mão e cumprimentou o povo presente. Os ingleses nem viram o gesto, pois batiam palmas era para a troca da guarda do palácio, cerimônia secular em Londres.
Pra fechar
Numa época em que predominou o ‘dedodurismo’, uma inspetora de ensino do interior deste estado, portanto uma senhora de um nível intelectual mais elevado pouquinha coisa, ao saber que seu filho tinha tirado zero numa prova de matemática – embora ciente de que o garoto era um debiloide – não vacilou em apontar às autoridades o professor da criança como perigoso agente comunista. Foi preciso que vários pedagogos da região – todos de passado ilibado – livrassem a cara do caluniado, para que ele não fosse alvo de Inquérito Policial Militar.
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